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Portugal em Chamas
O título poderia até ser uma metáfora para o estado económico-social do nosso país, no entanto nesta época do ano a expressão não podia ser mais literal. Com o final de Agosto começa a contagem da quantidade de hectares ardidos um pouco por todo o território nacional. A rotina parece ser anual, contudo este ano fomos surpreendidos com o número de vítimas destes incêndios, sendo que até ao momento cinco bombeiros já perderam a vida no combate às chamas.
Todos os anos vemos os noticiários a mostrarem imagens de verdadeiros muros de chamas, ouvimos as sirenes a passar perto da nossa rua e sentimos o ar mais quente e abafado, todos os anos a mesma situação se sucede sem haver um claro melhoramento de todo o contexto envolvente. E todos estes sucessivos episódios fazem-nos questionar se realmente a resposta política está à altura da realidade. E essa resposta política tem obrigatoriamente de começar na prevenção. Uma das críticas que hoje mais ouvimos por parte da Liga de Bombeiros é a de que realmente a propriedade do Estado é muita das vezes a pior tratada e a que mais riscos acarreta, e nesse sentido é uma obrigação do estado apoiar cada município, que juntamente com as juntas de freguesia devem adotar os meios necessários, estudar as áreas de maior risco e preparar uma resposta concreta e real a este flagelo que todos os anos ameaça milhares de pessoas.
Mas esta é apenas a primeira face do problema e talvez a mais importante, porém existe uma outra face muitas vezes ainda mais catastrófica. Só neste verão contamos já com cinco bombeiros que perderam a vida no combate às chamas, quando uma tragédia desta dimensão acontece cabe-nos a todos nós pensar o que está mal, já que não podemos aceitar como “normal” que um bombeiro morra em pleno séc. XXI no combate a um incêndio. Pessoalmente acredito que a grande causa para estes recentes acontecimentos resume-se facilmente à falta de meios, a verdade é que temos corporações com viaturas extremamente desgastadas, antigas e que já não chegam a todo o lado, para não falar de todos os equipamentos de segurança por vezes escassos para combater incêndios de grande dimensão. O primeiro-ministro diz que não e juntamente com o comandante da Proteção Civil, alega que os meios são os adequados, contudo várias corporações de bombeiros já vieram referir que a escassez de meios está a dificultar o controlo dos incêndios e a aumentar o risco de todos aqueles que lá combatem.
Entretanto enquanto se tenta identificar o verdadeiro problema, Portugal continua sob fogo, as vítimas vão se acumulando e como temos visto algumas acabam mesmo por falecer. Não podemos exigir menos do que uma resposta clara por parte deste governo a este flagelo, uma resposta completa, sem rodeios nem desculpas. Não há nem pode haver outra política que não a do investimento na prevenção e também no combate aos incêndios, através do reforço dos meios existentes. Este será certamente o caminho para que as florestas Portuguesas estejam mais seguras, assim como todos aqueles que as servem.
Comentários
"Não há nem pode haver outra
"Não há nem pode haver outra política que não a do investimento na prevenção e também no combate aos incêndios"...
Ou seja, mais do mesmo dos últimos 40 anos. Se não resultou até agora...
Há outros caminhos que poderiam ser trilhados... por exemplo re-criar uma floresta baseada em folhosas nativas (carvalhos, azinheiras, sobreiros, amieiros, freixos, ulmeiros, azereiros, lódãos, zelhas, zambujeiros, medronheiros, azevinhos, sorveiras, bidoeiros), que além de produzir madeira, cogumelos e frutos silvestres, promove a recarga dos aquíferos, fabrica solos, ameniza o clima e favorece a fauna e flora selvagens.
Esta floresta é menos propensa ao fogo e muito mais resiliente ao mesmo. Além de ser muito mais bonita.
Mas custa muito deixar o paradigma dos pinheiros e eucaliptos, não é?
Prevenção não é só exigir aos
Prevenção não é só exigir aos proprietários florestais, incluindo o Estado, a aplicação da limpeza e medidas de segurança exigidas na legislação.
Inclui fundamentalmente a educação. Desde o infantário até o fim da secundária. A educação da população em geral via campanhas educativas utilizando toda a tecnologia de multimedia e comunicações disponível.
Prevenção: considerando que todo fogo florestal (não intencional) se pode apagar com a sola do sapato no seu primeiro minuto, a utilização de meios aéreos para detecção de novos fogos no seu inicio e a sua comunicação a um comando central é fundamental. Planos nacionais de lugares de maior ocorrência de incendios. Até os clubes aéreos civis podem participar nesta tarefa, quando os jovens pilotos recebem instrução adequada.
Combate: uma patrulha de combate florestal treinada é 3 vezes melhor que os melhores bombeiros para este combate. Os bombeiros de cidade ficam parados no minuto mesmo que acabou a agua no estanque do camião. Já para não dizer que dependendo das condições do fogo e temperaturas na cabeça dele, a utilização de agua ajuda o incêndio (sem oxigenio não há fogo).
Tudo isto são conhecimentos do ABC da disciplina de fogos florestais em qualquer licenciatura em engenharia florestal. Parece que neste pais ninguém ouve o que tem para dizer os florestais. Continuará a catástrofe.
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