Está aqui
Pesadelo em Peluche
Nada que, no mesmo dia, incomode o líder parlamentar do PS: “nós não devemos seguir Espanha”, é Espanha “que está a seguir os passos do PS, feitos em devido tempo”. Passos Coelho, já sabemos, assume o pesadelo: "custe o que custar".
A troika salva a banca espanhola da sua própria loucura mas é o Estado que perde a soberania orçamental. Uma “instituição fiscal independente” realizará um controlo exaustivo dos orçamentos do Estado e as autoridades europeias realizarão um “acompanhamento regular e pormenorizado das medidas” do governo. A reforma laboral é uma prioridade. Em Dezembro, Rajoy aumentou a semana de trabalho dos funcionários públicos de 35 para 37,5 horas, deverá agora juntar mais horas, reduzir o salário em 5% e poderá mesmo avançar com despedimentos. Juntam-se ainda alteração ao cálculo e progressão das pensões de reforma e, quebre-se uma promessa eleitoral, cortes no subsídio de desemprego. Outra promessa ficará rasgada com a subida do IVA, castigando mais quem menos tem. A “eliminação do défice tarifário” (leia-se, aumentos) no sector elétrico é outra das medidas. Uma onda privatizadora pode avançar: Renfe, portos estatais, Paradores (rede de pousadas), Canal de Isabel II (águas de Madrid) e ainda vender o capital público na Sociedad Estatal de Participaciones Industriales (SEPI), na IAG (resultante da fusão da Iberia com a British Airways), na Ebro Foods e na Red Eléctrica de España (REE). O Ministério da Economia perderá poderes para o Banco de Espanha, reduzindo ainda mais o controlo democrático
A banca terá também obrigações, a mais inusitada de todas é a possibilidade de despedimento de milhares de trabalhadores no caso de recorrer ao resgate. Aqui premeia-se o bandido. E, pasme-se, os acionistas terão que assumir uma parte das suas próprias perdas para que esse peso não fique todo para o Estado. Ainda não se sabe contudo em que percentagem ou como.
Nunca o português foi tão semelhante ao castelhano (Em inglês [fonte Publico.es]). Mais um ano, mas os mesmos a serem salvos. Mais doze meses, mas os mesmos a sofrerem sacrifícios. António Seguro e o PS têm um sonho para o país: mais 365 dias. Contudo, por mais pelúcia com que o retratem não deixa de ser um pesadelo. Basta olhar para Espanha. O problema não é a concentração da receita são mesmo os ingredientes. Os desígnios da troika provocam uma enorme transferência de riqueza de quem trabalha, de quem trabalhou e de quem não tem trabalho para os donos do capital. Não é ajustando a velocidade desse fluxo financeiro que se melhora a vida dos portugueses. Esse é apenas o caminho para a recessão, o desemprego, a pobreza – a desigualdade. Rasgar o memorando da troika é condição para sair deste ciclo vicioso e não só. É a escolha de uma esquerda popular comprometida com a luta contra o abuso. A resposta que, como se vê na Grécia, mobiliza e movimenta.
Nota do autor: título retirado a um álbum dos Mão Morta
Comentários
Excelente.
Excelente.
Adicionar novo comentário