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PEC III

No dia em que toda a Europa se uniu para lutar contra os Planos de Estabilidade e Crescimento, José Sócrates nada ouviu.

Março, Maio e Setembro. Três meses de má memória, o último com o anúncio do mais pesado dos três pacotes de medidas de austeridade até agora apresentados. No dia em que toda a Europa se uniu para lutar contra os Planos de Estabilidade e Crescimento, José Sócrates nada ouviu e veio dizer-nos como a partir de agora vai ser pior. Mais uma vez, não será para todos.

Pensionistas, desempregos, funcionários públicos, beneficiários do Rendimento Social de Inserção, famílias inteiras já o sentem e senti-lo-ão ainda mais. O desemprego continua a aumentar e nenhuma política efectiva para a criação de emprego digna desse nome está na calha. É a solução das vistas curtas e uma promessa amarga para o futuro.

A obsessão com o défice do Estado vai reforçando cada vez mais o défice social num país onde as desigualdades sociais aumentam e a justiça económica e social tarda, quer nos planos de quem governa, quer nos do maior partido da oposição. Junte-se a tudo isto o aumento de impostos e o resultado é simples: diminuição progressiva do poder e compra dos trabalhadores e pensionistas e aumento sistemático das despesas de consumo. O saldo, claro está de ver, será cada vez mais negativo. Some-se-lhe ainda uma saúde cada vez mais cara e cortes nos abonos de família. É por tudo isto que o PEC III é o rosto da vergonha e da cobardia.

Não se pode, em retórica, ser defensor do Estado Social e anunciar a frio a sua morte. É contraditório, senhor Primeiro-Ministro!

Como tão bem explicou João Ramos de Almeida, se o valor do plano de contenção orçamental fosse de 10 euros, 6 euros desse plano seriam pagos pela população, em particular os que menos têm, 3 euros seriam pagos pelo Estado (que, já agora, é pago pelos contribuintes) e apenas 1 euro seria pago pelos restantes actores (empresas, bancos, detentores de maiores rendimentos e investidores imobiliários). Uma distribuição assim tão injusta só se justifica porque, como diria um anúncio publicitário antigo, “é fácil e dá milhões”. É fácil porque não há necessidade de enfrentar os interesses instalados. É fácil porque é mais rápido. Mais difícil fica viver para a grande maioria da população portuguesa, mas isso parece já ser indiferente.

Sobre o/a autor(a)

Eurodeputada, dirigente do Bloco de Esquerda, socióloga.
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