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Paulo Macedo e privados: amor com amor se paga!

Autorizada a entrega do novo hospital de Loures a mexicanos e/ou chineses.

As OPA lançadas sobre a ES Saúde vão ter consequências sobre a gestão do hospital público Beatriz Ângelo em Loures, em virtude daquele hospital do SNS ser gerido em regime de parceria público-privada (PPP). A principal consequência será a mudança do acionista da sociedade gestora daquela PPP que, atualmente, é a referida Espírito Santo Saúde, grupo vencedor do concurso público então promovido pelo Estado para privatizar a gestão daquele hospital.

Assim, aquilo que foi atribuído pelo estado por concurso público pode passar para as mãos de outros grupos privados de acordo com o resultado das OPA em curso, no caso concreto, dois grupos estrangeiros a saber: o grupo Ângeles, maior grupo privado mexicano na área da saúde, e o grupo chinês da Fosum através da seguradora Fidelidade adquirida por aquele grupo à CGD. Uma operação de mercado pode assim alterar o que resultou de um concurso público, a gestão de uma unidade do SNS.

Não será a primeira vez que tal acontece. Foi exatamente o que aconteceu quando a CGD vendeu o grupo de saúde HPP (Hospitais Privados de Portugal) aos brasileiros da AMIL, entretanto adquiridos pelo maior grupo segurador americano United Healthcare. Os HPP geriam a PPP do hospital de Cascais, hospital do SNS agora administrado por brasileiros e americanos.

Em virtude de estar em causa a gestão em PPP de um hospital público, as OPA requerem a autorização do ministro da saúde. Paulo Macedo não viu qualquer inconveniente nesta mudança na PPP de Cascais e autorizou-a quando, o que seria legítimo, era a devolução ao estado da gestão do hospital de Cascais. Não admira: este governo é amigo das PPP e, noutros domínios da atividade económica, tem promovido a privatização de grandes empresas públicas e a sua entrega a grandes grupos internacionais. Não surpreende, portanto, a informação agora divulgada pela comunicação social de que o ministro Paulo Macedo autorizou também as OPA sobre a ES Saúde e, portanto, a troca do grupo gestor da PPP do hospital de Loures. Registe-se, no que respeita à OPA do grupo chinês, a rapidez das decisões de Paulo Macedo: esta OPA foi anunciada apenas em 23 de Setembro.

Significa isto que no SNS , na rede pública de hospitais, passará a haver dois grande hospitais – Cascais e Loures – geridos por grupos privados, ambos estrangeiros e, nos dois casos, em resultado de operações financeiras que “rasgam” o que os concursos públicos ditaram.

Paulo Macedo confia nos grupos privados, nacionais ou estrangeiros tanto faz. E os grupos privados confiam em Paulo Macedo. Amor com amor se paga…

Sobre o/a autor(a)

Médico. Aderente do Bloco de Esquerda.
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