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Para um ensino democrático, feminista e livre de todas as opressões

A luta por um ensino democrático, descolonizado, livre de machismo, assédio e homofobia onde todas, todos e todes se sintam bem-vindes passa por um combate à praxe tal como a conhecemos, pela criação de espaços alternativos que façam frente ao capitalismo e ao fascismo.

Com o início de um novo ano letivo recomeçam de novo as praxes pelas diversas cidades universitárias. Daqui volta o mote de que a praxe é a única e mais tradicional forma de integrar as novas estudantes que ingressam no ensino superior, sendo que para muitas é também a primeira vez que começam uma nova vida fora de casa. A praxe é assim, desde logo, algo impingido àquelas que chegam às universidades e politécnicos.

A base da praxe assenta em uma estrutura hierárquica, machista, racista e homofóbica que tem como princípio humilhar através de mecanismos autoritários, sexistas e opressores, sendo assim o espelho da sociedade capitalista que sobrevive na lógica do elo mais forte e do mais fraco. Logo, o combate ao capitalismo passa por nos assumirmos enquanto antipraxe, pois a praxe acaba por ser uma arma do capital quando perpetua desde cedo a precariedade e exploração dos mais vulneráveis. Quando enquanto esquerda defendemos um ensino superior democrático, feminista e livre de homofobia sabemos desde logo que tal tem que passar pela existência de alternativas àquilo que é a praxe. O ensino superior tem que ser visto e vivido como um espaço de liberdade, que priorize o pensamento crítico, que combata todas as forma de opressão, onde nos construímos e conhecemos enquanto pessoas. Por isso mesmo, a alternativa à esquerda passa pela criação desses mesmos espaços e mecanismos onde o acolhimento e a solidariedade sejam realmente sentidos.

Para uma jovem que chega a Lisboa, Porto, Coimbra vinda do Interior apenas tem contacto com a praxe como a única saída para conhecer novas pessoas e estabelecer ligações naquela que é a sua nova cidade, sentindo que se não participar na mesma possa ser isolada disso. Assim sendo as alternativas são imperativas de serem construídas através da criação de espaços onde se relembre o espírito antifascista, feminista e anticapitalista que agitam os nossos espaços de ensino. A verdadeira integração tem e deve passar pela amizade, o afeto, o conseguirmos sermos nós próprias, da horizontalidade, onde ninguém é mais do que o outro. Onde se ocupem faculdades, politécnicos e cidades através da cultura, da arte, do debate político e pensamento crítico. Combatendo a ideia de que “nem todas as praxes são más”, de que existem “praxes boas e praxes más”, porém o sentimento de hierarquia continua a existir de qualquer das formas, partindo sempre um princípio daquilo que é a obediência a outro e a autoridade do mesmo.

A luta por um ensino democrático, descolonizado, livre de machismo, assédio e homofobia onde todas, todos e todes se sintam bem-vindes passa então por este caminho, por um combate à praxe tal como a conhecemos, pela criação de espaços alternativos que façam frente ao capitalismo e ao fascismo, reativar esse sentimento que abala a estruturas que ainda nos querem oprimir. E não termos medo de enquanto esquerda assumirmos esse mesmo papel.

Sobre o/a autor(a)

Licenciada em Ciência Política e Relações Internacionais. Ativista política e das causas LGBTQIAP+, ambientais e feministas. Autora do podcast “2 Feministas 1 Patriarcado”
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