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Para a inovação o investimento público é fundamental

Há um problema de produtividade em Portugal, apresentado como justificação para manutenção de baixos salários.

A responsabilidade não é dos trabalhadores. Os portugueses que trabalham no Luxemburgo, que são mais de 20% da população ativa daquela país, são muito produtivos, os portugueses que trabalham no Autoeuropa são muito produtivos, pois esta apresenta os mais altos níveis de produtividade dentro do grupo Volkswagen.

O problema reside na cultura de gestão das organizações portuguesas. Cultura do jeitinho e do desenrasque, avessa ao planeamento e à cooperação.

Cultura de desconfiança em relação aos demais concidadãos e ao Estado e da desconfiança do estado face aos cidadãos e empresas.

Os portugueses são na Europa os que menos confiam nos concidadãos a seguir a Chipre, situação que se agravou nos anos da crise.

Uma aposta no empreendedorismo, isto é no individualismo, no caráter messiânico dos investidores não resolverá o problema, mas antes tenderá a agravá-lo.

É preciso fazer diferente e fazer melhor. Fomentar uma cultura de cooperação nas empresas e no Estado, um ambiente favorável à colaboração tendo em vista a investigação e as exportações por ex.

O baixo nível de qualificação dos patrões é outro fator relevante. 80% têm habilitações inferiores ao secundário, na Europa a média é de 28%. Precisam de formação, com certeza, mas não em empreendedorismo, pois empreendedores já o são.

Sublinho a hipocrisia da maioria que apoiou o anterior governo, que após destruir a economia e a procura interna o que tem para dizer aos empresários é: “Ah não têm clientela, vão fazer um curso de empreendedorismo que isso se resolve”.

Quero denunciar aqui duas falácias comuns sobre o empreendedorismo:

O baixíssimos índices de sucesso: 3% apenas dos projetos sobrevivem ao fim de 5 anos. Considerando os projetos que nunca saíram do papel, por falta de financiamento o indicador baixa para 0,1% de sucesso. E os outros, a multidão que fica pelo caminho, com as vidas destroçadas, completamente endividados.

Outra falácia é o exemplo americano apresentado como modelo do investimento privado na tecnologia. É uma realidade que a América possui setores tecnológicos importantes, como a informática e a aeronáutica, mas essas indústrias surgiram e cresceram num contexto de fortíssimo investimento pública no pós-guerra motivado pela corrida ao espaço e ao armamento.

Foi o investimento público o motor do crescimento desses setores tecnológicos e não o mistificado génio de alguns investidores.

Criar muitas empresas é fácil, start-up’s criam-se na hora, o desafio é que perdurem em atividade, que criem emprego de qualidade concorram para o desenvolvimento local, não deslocalizem as atividades nem se descapitalizem para satisfazer as expetativas de lucro dos investidores. À luz destas preocupações, modelo cooperativo apresenta clara vantagem.

Estas preocupações também devem presidir à seleção de investimento estrangeiro. Pretendemos investimento produtivo e não especulativo que crie riqueza e valor acrescentado e não venha extrair rendas certas.

Intervenção na Assembleia da República em 14 de abril de 2015

Paulino: " Apenas 3% dos projectos de empreendedorismo sobrevivem ao fim de 5 anos"

Sobre o/a autor(a)

Coordenador do Bloco de Esquerda / Madeira. Economista, dirigente da Administração Pública.
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