É um dos principais cães de fila de Schäuble e do capital financeiro alemão, bem como um dos responsáveis pelo esmagamento do Syriza em 2015.
A linha programática e estratégica de austeridade permanente que Dijsselbloem seguiu, tal como o PASOK e o PSF, é a razão principal para o colapso eleitoral do PvdA nas últimas eleições legislativas holandesas. De 38 passou para 9 deputados; foi o partido, que incluiu o anterior Governo, mais severamente punido pelo eleitorado. Com este colapso, e a muito provável exclusão do partido na nova solução governativa, Dijsselbloem perdeu a sua base de apoio para integrar e se manter como Presidente do Eurogrupo. Ficou numa situação de vulnerabilidade e, com ele, Schäuble.
Numa entrevista a um jornal alemão, Dijsselbloem acusou os europeus do Sul de gastarem o seu dinheiro “em copos e mulheres” e “depois pedirem que os ajudem”. Para além da xenofobia e do sexismo demonstrados, Dijsselbloem reforça o discurso divisório entre o Sul e o Norte da Europa: o de que o Sul é o gastador e o Norte o trabalhador. Esta foi uma das linhas discursivas apropriadas pela extrema-direita populista e um dos fatores que explicam a sua ascensão no Centro e Norte da Europa. O Presidente do Eurogrupo rapidamente ficou sob fogo cerrado dos Governos do Sul, principalmente do português, e dos seus congéneres "socialistas", que exigiram a sua demissão. Já no passado Dijsselbloem tinha estado envolvido em polémicas que deveriam ter colocado em causa a Presidência do Eurogrupo, nomeadamente o facto de ter inserido no seu curriculum vitae um mestrado que nunca fez ou as declarações que proferiu sobre a desilusão que teve por a Comissão Europeia ter recuado nas sanções a Portugal e Espanha por excesso de défice orçamental. Lembremo-nos do silêncio do PS aquando destas polémicas. Porquê a quebra do silêncio?
Para além do cariz destas declarações, parece-me que o Governo de Costa tem outras motivações para esta tomada de posição tão agressiva - se compararmos com as restantes posições do PS na arena europeia - perante um dirigente da sua família política. Em primeiro lugar, Dijsselbloem representa e defende uma estratégia de alianças antagónica à de António Costa e Martin Schultz, recentemente eleito líder do SPD alemão, para a Internacional Socialista. Se o primeiro deseja coligações e acordos parlamentares à direita, os segundos defendem uma viragem tática à esquerda, a multiplicação das "gerigonças". A saída de Dijsselbloem de cargos governamentais europeus, nacionais e partidários fortaleceria a relação de forças no seio da Internacional Socialista a favor de Costa e Schultz, principalmente depois do primeiro ter sido eleito para a direção da Aliança Progressista, uma rede internacional de forças políticas que integra partidos socialistas, trabalhistas e democratas de vários continentes. Para tal contribuiu a formação da "geringonça" e a viragem exclusivamente táctica do PS para a Esquerda.
Em segundo lugar, a pressão europeia sobre o Governo português poderá aumentar nos próximos tempos. Depois do recuo das sanções a Portugal pela Comissão Europeia, o BCE, através de um relatório, considera que o Governo português não tem adotado as medidas necessárias nos últimos três anos para corrigir desequilíbrios macroeconómicos excessivos, defendendo a aplicação de uma multa de cerca de 190 milhões de euros. A questão da multa não é apenas de cariz financeiro, mas, sobretudo, político, fornecendo munições ao PSD e CDS-PP, para além de fragilizar externamente a solução governativa de Costa. Sabendo que o BCE é controlado pelas instâncias alemãs, é de supor que este ataque parte de Schäuble e dos seus cães de fila contra a solução governativa portuguesa, principalmente quando as eleições legislativas alemãs se aproximam e as sondagens adiantam que Schultz vence Angela Merkel. Por exemplo, as sondagens das eleições para o Estado federal do Sarre, que se realizam este domingo, demonstram a perda de terreno da CDU para o SPD ao ponto destas eleições terem significado nacional. Schäuble e o capital financeiro alemão não se podem dar ao luxo de aguardar pela reorganização de um dos partidos da burguesia portuguesa, isto é, o PSD, para que a “geringonça” seja colocada em causa.
Em terceiro lugar, o Governo socialista assume uma posição de liderança entre os países do Sul contra os dirigentes do Norte da Europa que pretendem manter a austeridade permanente. Por último, Costa fortalece a sua posição junto da opinião pública ao combater ativamente um dirigente europeu que prestou declarações humilhantes para os povos do Sul, utilizando o orgulho nacional para o efeito. É a práxis do seu cartaz “Defender Portugal na Europa”. Cria-se a perceção de que faz frente à "Europa", quando não o faz, e o cumprimento do Tratado Orçamental é prova disso mesmo. Acrescente-se ainda o reforçar das diferenças junto da opinião pública entre o seu Governo e o do “bom aluno” de Passos Coelho e Paulo Portas, pelo menos enquanto o primeiro se mantiver na liderança do PSD e a memória desses anos se mantiver fresca.
Não obstante a pressão do Governo português e do PS e seus congéneres “socialistas”, que até obrigaram a direcção do PvdA a escolher entre Dijsselbloem e a continuação da pertença à familia política europeia, Jean-Claude Juncker e Schäuble vieram a terreiro defender Dijsselbloem. Este último, por sua vez, recusou demitir-se, prolongando o tema e o seu desgaste político. A manutenção ou demissão de Dijsselbloem enquanto Presidente do Eurogrupo assume-se como um braço de ferro tanto entre duas linhas estratégicas no seio da Internacional Socialista como entre Schäuble, e a sua linha dura, e Costa/Schultz. Estes pretendem encetar reformas na zona euro e aliviar a austeridade, mas sem resolver os problemas de fundo do funcionamento da zona euro e da atual crise estrutural do modo de produção capitalista. O desfecho deste confronto poderá fornecer umas quantas pistas sobre a relação de forças na escala europeia entre os partidos do “extremo centro” e o futuro da zona euro.