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Pagas a “negro” aos teus trabalhadores?

Numa homilia, o Papa Francisco classificou a injustiça para com os trabalhadores como um pecado gravíssimo.

Numa homilia, o Papa Francisco perguntava aos fiéis: A quem vai à Missa todos os Domingos e recebe a comunhão pode perguntar-se: Como é a tua relação com os teus empregados? Pagas-lhes “a negro”? Pagas-lhes o salário justo? Pagas-lhes a Segurança Social?". Mas foi mais longe, e classificou a injustiça para com os trabalhadores como um pecado gravíssimo.

A Igreja, desde a encíclica “Rerum Novarum”, de Leão XIII, que vem desenvolvendo uma doutrina sobre as relações de trabalho contemporâneas, ainda que sempre como reacção à crescente influência dos movimentos de luta operária a partir do Século XIX. A grande novidade do Papa Francisco é a simplicidade e acutilância das suas interpelações, que tanto deviam inquietar os fiéis da Igreja Católica.

A justiça nas relações laborais assenta no radical do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, em função da especial relação de dependência e a necessidade de tutela dos direitos de personalidade da parte mais frágil do contrato de trabalho. A partir daqui, de muitas formas se pode construir a justiça e o direito do trabalho, seja numa perspectiva de concessão, seja por uma perspectiva emancipatória – para mim a via mais adequada.

A posição do Papa Francisco é uma posição teológica, que facilmente encontra arrimo em diversos textos bíblicos. No entanto, estou certo que cairá por terra, semelhante é a divergência entre a doutrina cristã e as práticas de muitas e muitos fiéis da Igreja Católica. Por mais que o Papa Francisco diga que um empresário “não pode fazer ofertas à Igreja à custa da injustiça que pratica com os empregados” e que “este é um pecado gravíssimo: usar Deus para cobrir a injustiça”, estas serão palavras que cairão em saco roto na maioria dos fiéis a que são destinadas. Por isso, não se iludam: a via da luta emancipatória é a única possível.

Artigo publicado no “Jornal do Centro” a 30 de março de 2018

Sobre o/a autor(a)

Advogado, ex-vereador a deputado municipal em S. Pedro do Sul, mandatário da candidatura e candidato do Bloco de Esquerda à Assembleia Municipal de Lisboa nas autárquicas 2017. Escreve com a grafia anterior ao acordo ortográfico de 1990
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