Pacheco Pereira lamenta a perda dos melhores valores europeus, a mesquinha atitude do Eurogrupo e dos líderes europeus e do FMI, que fazem questão em impor à Grécia a continuação com escassas mudanças do sempiterno programa de austeridade à FMI.
A democracia de Teresa de Sousa é a das elites que, uma vez eleitas nos sistemas partidocráticos europeus ou escolhidas por augustos pares como no caso do FMI, Banco Central e dos Comissários Europeus, se acham no direito de escolher o caminho futuro de gerações inteiras. Não é este o entendimento do governo grego, que assume as limitações de seu mandato. E que, em coerência democrática, quer uma resposta clara ante a draconiana proposta final do Eurogrupo, que condiciona futuro da Grécia pelos próximos decénios.
Teresa de Souza torce a verdade quando diz que a Grécia estava de má fé nas negociações. O que está claro para muitos é que os altos poderes financeiros internacionais e as lideranças políticas europeias nunca ofereceriam a um governo qualificado de esquerdista e radical pela grande imprensa mundial a possibilidade de uma acordo minimamente aceitável, principalmente do que toca à gestão da dívida a longo prazo, vale dizer, da criação de condições para o crescimento económico. Em outras palavras, se o governo grego saísse destes meses todos com uma pequena vitória que fosse, como ficaria a face da Troika e dos governos submissos como o português? Para estes poderes constituídos sempre houve somente duas opções: colocar Tsipras de joelhos, de espinha quebrada, a dizer amém para Lagarde&Cia. ou abrir o processo de expulsão da Grécia do euro, ora em curso. É triste ver nossos governantes a somarem suas vozes no coro do "mata&esfola", do qual fazem parte conspícuos professores especialistas e consagrados articulistas por esta Europa afora.
Pacheco Pereira tem razão quando vê negro o futuro da Europa. Quando o tom do coro europeu é dado por um ministro de finanças arrogante, cínico e mentiroso como o presidente holandês do Eurogrupo, pobre Europa dos Valores. Um ministro que não hesitou a, implicitamente, pedir que o Parlamento grego derrubasse o governo eleito há 6 meses atrás.
Com a palavra, agora, os eleitores gregos. Que decidam que futuro querem. Sacrifícios, de espinha quebrada, ou sacrifícios, mas com mais dignidade. E, quem sabe, com novos caminhos e novos aliados.