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Os corsários dos tempos modernos

A pirataria generalizada de outras épocas, os corsários, parte deles financiados por estados, e com origem na Europa, que pirateavam as mercadorias de séculos passados, parecem estar de volta nos tempos modernos.
Os diversos impérios nunca respeitaram totalmente a ordem internacional da soberania dos povos. E o que mais violou esses direitos foi o império “norte-americano”

“Retirou-se do acordo de Paris sobre o clima, rasgou o tratado nuclear com o Irão e suspende o financiamento à Organização Mundial de Saúde em pleno surto mundial”, escrevia um amigo há dias…

Vivemos tempos inimagináveis, mas que já não nos fazem estranhar muito….

A pirataria generalizada de outras épocas, os corsários, parte deles financiados por estados, e com origem na Europa, que pirateavam as mercadorias de séculos passados, parecem estar de volta nos tempos modernos.

Um conceito de respeito entre estados e de alguma ordem internacional, assente num direito internacional sempre frágil, que a burguesia fez emergir em meados do século XIX na emergência de um “capitalismo do desenvolvimento” assente nos estados-nação então existentes e consolidados em negociações entre blocos na sequência do fim da segunda guerra mundial, em 1945, em que o mundo e a Europa ficou, tacitamente, dividida em áreas de influência, depois do acordo de Yalta e Potsdam, celebrado entre as potencias vencedoras do nazismo/fascismo, parece ter-se esfumado, muito facilmente, e recentemente, na sequência desta terrível pandemia.

Verdade que os diversos impérios nunca respeitaram totalmente a ordem internacional da soberania dos povos. E o que mais violou esses direitos foi o império “norte-americano”, ou “estado-unidense”, criando diversos conflitos regionais, ao longo dos últimos

75 anos, em diversas zonas do planeta, na sua estratégia de expandir a seu poderio e influência militar e económica e aproveitando um clima chamado de “guerra fria”, guerra não declarada, com as áreas de influência sino-soviética, num primeiro tempo e só soviética, posteriormente.

Todavia, após a chamada” queda do muro de Berlim”, e o fim da “guerra fria”, o que era o potencial maligno de um capitalismo já em fim de ciclo, veio ao de cima muito rapidamente, primeiro na Europa, com guerras localizadas de terror generalizado, a dos Balcãs, com o estímulo de alguns imperialismos europeus, e depois pelo mundo, de novo, desde a destruição e recolonização do Iraque até à nova recolonização da América Latina.

Mas o mais revelador dos sintomas destas novas (velhas) burguesias de pendor neo-liberal, da “Escola dos boys de Chicago”, são, não só as crises cíclicas e as austeridades infindas, como os aspectos das novas piratarias no quadro geográfico europeu e mundial. Material sanitário/clínico comprado por uns países, e em transito aéreo, são saqueados nos aeroportos de escala. Aconteceu com material sanitário espanhol em aeroportos da Turquia, sob as ordens de Erdogan, em França, inexplicavelmente; na Republica Checa, sob ataque de máfias, coordenadas com o governo de material comprado por Itália; com material comprado pelo Brasil em aeroportos dos EUA, e mesmo material comprado pelo Canadá, fica retido por ordens de Trump.

Além disso, costuma ser usual, nos mercados asiáticos, os novos corsários, sob as ordens de Trump, comprarem mercadoria sanitária com destino a países europeus e sul americanos, mesmos nos aeroportos, já carga acondicionada, oferecendo três a quatro vezes mais o preço já acordado, mudando os aviões de destino de um minuto para o outro.

O próprio Trump tenta, na Alemanha, comprar um laboratório que investiga a criação de uma vacina para o novo vírus a fim de ficar com essa patente e depois vendê-la ao preço que quiser, pelo mundo.

Proíbe a exportação de qualquer tipo de material sanitário para qualquer outro país do mundo, em época de pandemia.

Está criada a desordem nas relações internacionais.

O Covid19 veio mostrar que o capitalismo está disposto a novas guerras na Europa para garantir as mais valias do capital financeiro e a continuidade política do projecto extorsionário neo-liberal da austeridade eterna, destruição dos Estados Sociais e da protecção nas reformas e na doença, entre outras.

Trump transforma-se e consolida-se num perigo para a paz mundial e para a vida de muitos países, como Cuba, o país que mais tem ajudado outros e desta vez vê-se impedido de receber respiradores como ajuda humanitária entregues pela China, porque o império do norte decide que assim será. Assim como decide bloqueios a quem entende, criando graves problemas humanitários a outros países e a esses povos.

Até quando vai a Europa seguir as directivas desse império do mal, corsário, criminoso, belicista??? Porque o tem seguido qual cordeiro obediente, e nada inocente, também.

A própria Europa e os povos europeus necessitam rever o seu paradigma continental político e económico. A Europa do capital neo-liberal não nos serve nem serve ao futuro dos nossos povos e países., Não serve à paz nem à democracia.

As guerras e a austeridade eterna, com ameaças chauvinistas, são um mal a abater.

Busquemos, pois outra Europa, outros caminhos, os caminhos da paz, do desenvolvimento sustentado ambientalmente e da justiça solidária entre os povos.

Garantir futuro e felicidade aos povos da Europa deve ser o nosso paradigma, deve ser o nosso horizonte.

Sem paz, pão, justiça social, e democracia económica, social e política não teremos futuro. O futuro faz-se com mais e mais cidadania, com direitos humanos. Sem isso não teremos saída. Isso é mais do que certo, por aquilo que estamos a ver, neste momento na Europa e no Mundo.

“(…)As nossas vidas não devem ser suadas desde o nascimento até ao fim

Os corações morrem de fome como os corpos; dai-nos pão, mas dai-nos rosas”

James Oppenheim, versão da Elisa

Sobre o/a autor(a)

Membro do Grupo de Trabalho para a América Latina do Partido da Esquerda Europeia. Dirigente do Bloco de Esquerda. Escreve com a grafia anterior ao acordo ortográfico de 1990
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