O detalhe do Orçamento do Estado ainda não é conhecido, mas o que já sabemos serve perfeitamente para confirmar as dúvidas que não tínhamos: não há limites para a austeridade. Uma vez cá dentro, a austeridade entranha-se e reproduz-se, quer sempre mais, não se detém perante nenhuma doçura de intenção.
Este Orçamento é napalm sobre o país, diz Bagão Félix. E tem razão. Ao contrário das outras bombas que explodem e pronto, o napalm tem a particularidade de ser gelatinoso e de se colar à pele, provocando queimaduras que vão do tecido muscular até ao interior dos pulmões. A imagem é dura, mas é clara sobre os efeitos recessivos da austeridade sobre uma economia.
Quem faz uma comparação deste tipo não pode encurralar um povo na escolha entre napalm ou napalm “soft”. A natureza do veneno é destruir, ainda que nos tentem convencer de que ele é bom para a saúde se for tomado em pequenas doses.
Os números conhecidos do Orçamento do Estado dizem-nos isso mesmo. Não adianta navegar nas folhas excel à procura de almofadas. Os milhões exigidos pelos credores, venham eles pela receita ou pela despesa, não sairão dos bolsos dos próprios. Resta um corte brutal no salário direto (receita) e indireto (despesa) dos trabalhadores, o que, no final das contas, levará sempre o país à penúria.
É que, ao contrário do que diz Teresa Leal Coelho, não é a troika que paga os salários dos deputados. A gamela da ração a que Teresa diz que os deputados devem ser subservientes está sempre vazia, apesar de trabalharmos “que nem mouros” e termos a maior carga fiscal da Europa (à exceção da Roménia). Só podemos concluir que anda aqui alguém a viver acima dos nossos impostos… mas não é a democracia.
Este orçamento não convenceu nem um democrata-cristão como Bagão Félix e não pode convencer ninguém. A austeridade falhou. Já não é uma questão de fé, daquelas em que se acredita ou não acredita. Bem pode rezar Cristas para que chova no deserto. Isto não é um problema de fé, é terrorismo social.
Os limites da austeridade? Entre o napalm e o napalm soft, preferimos o “que se lixe a troika” gritado bem alto na rua.
