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O ultimato, de novo
A periferização de Portugal no quadro europeu e mundial acelerou brutalmente nos últimos três anos. O ajustamento estrutural imposto pela troika não foi outra coisa senão isso: reposicionar Portugal – e a Grécia e a Espanha, por agora – como economia subalterna no espaço europeu através de uma desvalorização interna, ou seja, de uma diminuição substancial dos custos do trabalho.
Somos, pois, hoje, um país mais baratinho. Mas somos desgraçadamente muito mais que isso: somos um país mais rendido e um país mais vendido.
O país que não reage ao puxão de orelhas da Comissão Europeia por ter tido a ousadia de aumentar em 17 euros o salário mínimo é um país sem brio, que interiorizou um medo atávico diante do poder de fora, um país disponível para ajoelhar perante quem o repreenda por fazer seja o que for para além daquilo que lhe mandem fazer. Convirá entretanto lembrar que muitos dos que vieram à praça pública dizer da sua indignação perante o silêncio do Governo face a esta afronta votaram com convicção e pressa o Tratado Orçamental que atribui à mesma Comissão Europeia o poder para tutelar todas as escolhas de afetação de recursos feitas em Portugal até 2044.
Somos, enfim, um país mais vendido. As privatizações de unidades e setores de importância nuclear para a existência de um país com um mínimo de autonomia – da energia às telecomunicações, dos correios aos aeroportos – foram tão só o pórtico para a sua aquisição por entidades estrangeiras para quem o interesse estratégico de um país é ainda mais indiferente do que para os representantes do capital nacional. Os desenvolvimentos dos últimos dias do dossiê PT são uma aula prática do princípio ‘o capital não tem pátria’: de virtual suporte a uma grande empresa de referência da lusofonia, a PT arrisca-se a passar a ativo de terceira categoria no património de um grupo francês. E Portugal, pá?
O fundo que dá sentido a todo este abatimento de um país mais baratinho, de um país mais rendido e de um país mais vendido, tem um nome claro: chama-se dívida. É por ser refém da chantagem da dívida que o país se embaratece, se rende e se vende. A dívida é para a nossa geração o que o ultimato foi para a geração que implantou a República. Ao mesmo tempo, a dívida que nos asfixia a nós como asfixia também a Grécia ou Chipre e rouba cada vez mais democracia em França ou na Itália, é para a nossa geração o que a II Guerra Mundial foi para a geração que sonhou uma união dos povos da Europa. A luta contra a chantagem da dívida é a nossa escola de patriotismo e de internacionalismo.
Comentários
Está instalado um polvo há
Está instalado um polvo há vários anos, desenvolvido pelos partidos do «arco da governação», através dos seus sucessivos núcleos dirigentes, que vai asfixiando e entristecendo uma sociedade inteira para engordar meia dúzia de lobos; é claro que, aos chefes da alcateia (os que comandam de fora), tem que proteger a nossa meia dúzia! O poder de combate a esta gentalha é mínimo.
Todos os dias deparamos com exemplos chocantes, como o da alusão à contradição entre a super fortuna da filha do Presidente de Angola e o apelo da UNICEF para a necessidade de 4 milhões de € para combater a subnutrição nesse país. De qualquer modo vamos falando na tentativa de despertar consciências para o paulatino combate a estas cliques corruptas.
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