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O Seguro segura-se?

Há muito é uma anedota particularmente embaraçosa para os que, mesmo tendo-o apoiado numa primeira fase, nunca pensaram que teria hipóteses de chegar ao poder.

Há líderes políticos que surgem para serem queimados. Não se espera que cheguem a lado algum, mas apenas que carreguem a liderança num momento difícil do partido. Como é mais do que sabido, sobretudo no bloco central, os líderes dos partidos políticos são limitados pelos momentos dos ciclos políticos em que surgem. Podem ter a sorte de surgir num momento de dificuldades grandes do seu rival ou não. No caso de Seguro, quando ascendeu, foi considerado um líder passageiro do PS. Surgiu logo após uma mudança de ciclo, o que tipicamente não é um bom momento.

No entanto, o desgate a que o atual Executivo se submeteu permitiu ao líder socialista capitalizar sem grandes dificuldades o crescente descontentamento. Gostemos ou não delas, as sondagens indicam esta forte tendência. Curiosamente, o Tó Zé tem conseguido a enorme façanha de deitar fora o que lhe tem sido oferecido de bandeja. Há muito é uma anedota particularmente embaraçosa para os que, mesmo tendo-o apoiado numa primeira fase, nunca pensaram que teria hipóteses de chegar ao poder. E o problema é que o poder começa a dar sinais de lhe querer cair no colo mais cedo do que poderia ser expetável. Começa a ser consensual que este Governo não resistirá até ao final do ano. Mas será que Seguro se segura até lá? Eis a questão.

O PS encontra-se agora no poderoso dilema sobre o que fazer com o atual líder. Ficar a ver o poder cair-lhe no colo ou encontrar um pretexto para António Costa avançar? E que pretexto pode ser esse com as autárquicas já em plena preparação e tudo indicando que irão correr bem ao PS e, consequentemente, à atual direção?

Neste sentido, futurologia à parte, tudo parece naturalmente possível. Não seria a primeira vez que alguém chegaria a primeiro-ministro quase sem querer. Do mesmo modo, também é sabido que qualquer deslize de Seguro pode ser o pretexto para abrir uma crise de liderança no partido. António Costa está no encalço, já nem se dando ao trabalho de disfarçar. Eis uma novela seguramente interessante de acompanhar.

Sobre o/a autor(a)

Politólogo, autor do blogue Ativismo de Sofá
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