O povo falou no passado dia 4 e a expressão da sua vontade reflete-se na composição do próximo parlamento dos Açores. O Bloco terá menor representação parlamentar mas a mesma vontade de lutar por um caminho de progresso para os Açores.
A coligação esperou reforçar-se com a crise política que criou e com a sua vitimização, mas com isso reforçou o Chega e enfraqueceu a esquerda, sem conseguir mais mandatos. A cada cartada tática do PSD e de Bolieiro a extrema-direita cresce: o acordo de 2020, a crise política de 2023. A coligação governará, cada vez mais permeável ao Chega, depois de já ter adoptado o seu discurso. Os tempos, em que predominam os ventos de Leste, convidam aos jogos de xadrez em que os Açores são peões. As eleições de 10 de março condicionarão o futuro governo regional dos Açores.
A polarização causada pela crise política, associada à campanha assente no medo, sem projeto, subtraíram à esquerda. As sondagens contraditórias acentuaram essa mesma polarização. O Bloco não conseguiu contrariar essa tendência e não cumpriu os seus objetivos. Ainda assim, resistimos e fomos a quarta força, num contexto muito difícil para a esquerda.
Já passamos por isso nos Açores. Sabemos o que significa ter maus resultados e sabemos ainda melhor o que é recuperar e superar os resultados anteriores. Em 2012, num contexto de forte bipolarização regional, perdemos o grupo parlamentar, mantendo um mandato. Com a capacidade da Zuraida Soares recuperamos o grupo parlamentar em 2016 e em 2020 conseguimos o melhor resultado de sempre em legislativas regionais numa candidatura que protagonizei.
Não tenho dúvidas que o Bloco nos Açores voltará a crescer.
Não tenho dúvidas que o Bloco nos Açores voltará a crescer
Agora há uma maioria da direita no parlamento dos Açores, que só por vontade dos partidos da direita e do Chega não chegará ao fim da legislatura. E esta poderá ser uma longa legislatura, de quatro anos e meio.
Durante este período, a democracia continua. No parlamento, o Bloco será a mais forte das oposições ao governo da coligação de direita, quaisquer que sejam os seus aliados.
Não deixaremos de responder às crises que nos assolam, da crise da habitação à crise climática. Estaremos na primeira linha da construção de respostas às pessoas, aos serviços públicos, na luta pelo progresso e por justiça na economia. Enfrentaremos, sem medos, os grandes interesses. O que nos faz continuar é o tanto que há por fazer.
Para o fazer, a nova situação política de viragem significativa à direita, exige cada vez mais criar e reforçar alianças sociais para tornar o Bloco e, acima de tudo, a esquerda mais forte nos Açores. As adversidades apenas nos tornam mais resistentes.
Em 2011, quando cheguei ao Bloco, vivia-se um dos momentos mais difíceis para a esquerda e para o país. O Bloco tinha tido um mau resultado nas eleições legislativas para a Assembleia da República, perdendo metade do grupo parlamentar. A troika tinha aterrado na Portela e um brutal plano de castigo ao povo português somava-se à austeridade dos governos de Sócrates. Demos a volta por cima e o país também. Hoje estamos prontos para fazer o mesmo nos Açores.