Este é o fim-de-semana do orgulho LGBT em Lisboa. E acontece numa cidade e num país onde se procura arduamente demonstrar que a aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo não foi o fim ou o clímax de algo mas apenas um ténue início de uma transformação que se quer muito mais profunda e muito mais enraizada nas nossas vidas. Podem hoje, algumas pessoas, perguntarem o que é que afinal ainda falta fazer… Bem, na verdade falta fazer quase tudo. E falta fazer muito mais para além da adopção! Falta educar para a diversidade, invadir as nossas escolas com o conhecimento dessa diversidade, demonstrando que há muitas formas de amar, que há mais do que homem e mulher, que as famílias são tão diferentes quão diferentes são todos os seres-Humanos, que as identidades são pessoais e não imposições, que a sexualidade tem que ser informada e responsável. Falta garantir igualdade nos serviços, assegurar que o sistema de saúde e os seus profissionais tratam todos e todas com respeito e procuram ajudar de acordo com as nossas especificidades. Falta garantir que a procriação medicamente assistida é um direito de todas, casadas, divorciadas, lésbicas, transexuais, quem quer que eles ou elas sejam. Falta garantir que ser idoso e homossexual não é uma desvantagem na saúde, no acesso aos lares, na interacção diária dos nossos e das nossas seniores com o resto da sociedade. Falta educar as forças de segurança para a diferença e para a sua vulnerabilidade. Falta descobrirmos todos juntos o que é a interssexualidade e porque ela é tão importante para mudar o mundo. Falta descentralizar o desejo e a sexualidade ostensiva da beleza única e demonstrar que os feios, as gordas, os manetas, os rastas, as velhas, o lingrinhas, a bruta, o motoqueiro, as punks, os cegos, a surda, o ruivo, as ciganas, a avozinha, os japoneses são seres sexuais. Falta um ministro gay assumido. Falta uma procuradora-geral da república lésbica assumida. Falta um governador do banco de Portugal transexual. Falta um guarda-redes do porto casado com um lateral do Sporting.
Falta tudo isto e ainda mais aquilo que ainda não sabemos que falta!
Esta semana a ONU aprovou a primeira resolução para a não discriminação dos seres-Humanos face à orientação sexual. Foi histórica e mesmo assim teve 19 países a votarem contra. 19 países a demonstrarem que fora das nossas fronteiras ainda falta fazer muito mais. 19 países a relembrarem que existem cidadãos LGBT a serem mortos pela sua condição e identidade. Que ainda existe perseguição, violência, repúdio, agressão, violação e assassinato de pessoas LGBT.
Vamos todos e todas à Marcha LGBT este fim-de-semana e iremos por muitos mais anos pelo tanto que falta fazer. Nada está garantido para o futuro e o progresso não se faz sempre no mesmo sentido. A história é feita de avanços e de recuos e só existem avanços quando existe luta e gente que se bate por eles. E vamos marchar sempre até que a marcha deixe de fazer sentido – no dia em que não existirão homens ou mulheres, homossexuais ou heterossexuais. E mesmo nesse dia marcharemos, para nos lembrarmos que no passado houve violência e discriminação e que o presente que queremos será sempre o resultado de luta e esforço e convicção!