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O problema da Obamania

Ninguém é indiferente ao facto de um negro chegar à Casa Branca, como não seria uma mulher. Possivelmente algumas liberdades respiram melhor - aguardemos pelo fim de Guantanamo. Mas, má notícia, o império continua. E a frente pela Paz não se pode distrair. Ver tudo por igual nos EUA é cegueira, seguramente. Mas achar "que é desta", só passa na emoção...

Desencantos longos têm destas coisas. Quando surge o encanto efémero obscurece a razão. A política de guerra de Bush, com largo sofrimento e condenação planetária, parece para muitos vir a ter um ponto final com a eventual eleição de Obama, que se opôs à invasão do Iraque.

O problema é que o mesmo Obama quer intensificar a guerra da NATO no Afeganistão (onde a URSS partiu os dentes) e incendiar por tabela o Paquistão (coisa de somenos, do clube nuclear). O problema é que o mesmo Obama sustenta o plano de cerco à Rússia com um anel de armas tácticas. O problema é que o mesmo Obama ameaça o Irão com o recurso à guerra. O problema é que o mesmo Obama já declarou que Jerusalém só pode ser de Israel, vejam-se as ondas de choque no mundo árabe. Can he do it? Yes, he can. É certo que McCain quer tudo isso, ameaça a paz de igual modo e não abdica do controlo manu militari do Iraque. So what? É certo que Obama parte para a briga querendo a companhia da união europeia. Yes, he can. E depois? Que tem isso a ver com a paz e a distensão mundial?

Há quem diga que as ameaças de Obama são bluff eleitoral, se assim for piora um pouco para a previsibilidade do inquilino da Casa Branca...

Ana Gomes ou Mário Soares descobriram, não se sabe onde, que Barack quer ser um novo Roosevelt, recordam o multilateralismo americano (que nexo terá com o quadro da 2ª guerra mundial?) ou o new deal - o contrato social com os pobres (já leram o programa eleitoral de B. Obama?).

O delírio encantatório chega ao ponto de achar que o candidato é de "esquerda". Ninguém é indiferente ao facto de um negro chegar à Casa Branca, como não seria uma mulher. Possivelmente algumas liberdades respiram melhor - aguardemos pelo fim de Guantanamo. Mas, má notícia, o império continua. E a frente pela Paz não se pode distrair. Ver tudo por igual nos EUA é cegueira, seguramente. Mas achar "que é desta", só passa na emoção...

Sobre o/a autor(a)

Dirigente do Bloco de Esquerda, professor.
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