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O Metro vai parar?

Os trabalhadores da empresa concessionária da exploração do Metro do Porto, pararam o metro. E este parar não foi aos comandos da máquina (veículos) mas sim ao comando dos seus destinos.
Trabalhadores da Metro do Porto concentrados - Foto esquerda.net

Ora, com a entrega da exploração à ViaPorto (empresa do grupo Barraqueiro) o sindicato representativo dos trabalhadores da operação, SMAQ, diligenciou a negociação de um novo AE, tendo por base o AE que transitou da Prometro (empresa também do grupo Barraqueiro), assim como as aspirações dos trabalhadores por melhores condições salariais, mas principalmente, melhores condições de trabalho.

De entre propostas e contrapropostas, as negociações fizeram paragem na estação 5 de novembro, (5 de novembro não é estação, mas é a data da ultima reunião em que houve avanços nas negociações.)

A fim de desbloquear a negociação e fazer pressão na entidade patronal, os seus representados entregam pré-aviso de greve com paragem total nos dias 10, 17 e 31 de dezembro de 2018.

Pergunta o leitor: “então e não marcaram greve para o dia 24, 25 dezembro e 1 de janeiro? Sempre ficavam em casa, ...”

Poder, podiam... mas não era a mesma coisa. Estas duas centenas de trabalhadores, apesar de trabalhar por turnos, de não verem os filhos crescer, de passarem tantos Natal e ano novo aos comandos dos metros com a missão de transportar outros, não se serviram do expediente da greve para ficar em casa. Estes trabalhadores exigiram o pré-aviso de greve e consequente greve para que tivessem um acordo coletivo de trabalho que venha ao encontro das suas reais expetativas.

Pela entidade patronal, ViaPorto, qualquer reivindicação por parte dos trabalhadores era recusada com o argumento de que não havia verba disponível. Dizia a empresa que o concurso foi muito “renhido” e que para ganhar o concurso, tiveram que fazer o esforço adicional.

Onde já se ouviu isto,... Ups, foi em uma conversa capital, para a antena 1 e Jornal de Negócios, em que o presidente do grupo barraqueiro (Humberto Pedrosa) diz que terá que fazer “muito trabalho” para não perder dinheiro, uma vez que foram ao “limite” para ganhar o concurso. Segundo Humberto Pedrosa, teriam que minimizar o mais possível os custos e rentabilizar o mais possível a operação, que a proposta para a exploração da Metro do Porto foi um tiro debaixo de água e que os seus parceiros teriam que fazer um esforço adicional para ser viável essa mesma concessão.

Então, um grupo económico que se encontra a explorar a rede de Metro do Porto, que sabe os anseios dos trabalhadores, tem conhecimento do absentismo galopante motivado pelo excesso de penosidade no trabalho, concorre com um valor de “tiro de baixo de água” e depois quer que sejam os trabalhadores a pagar essa fatura?

Não. Os trabalhadores não vão pagar essa fatura. Não é justo retirar de quem produz, para “alimentar” grandes grupos económicos. Bem pelo contrário, os trabalhadores têm direito a ver concretizadas as suas reivindicações.

Os trabalhadores trabalham arduamente para prestar um serviço de excelência. Horas e horas fechados num espaço minúsculo, sem tempo para comer, ir ao WC, proibidos de ouvir radio ou atender telemóvel, sempre com atenção ao estado dos sinais, ao embarque e desembarque dos passageiros, aos peões e veículos que constantemente ocupam o canal de circulação do metro.

Mas eis que chega a hora. Greve convocada, serviços mínimos não atribuídos, e pela primeira vez na sua história, avizinha-se a não circulação de qualquer composição.

Parados não pela ação do maquinista no manípulo de condução, mas pela ação de todos os maquinistas determinados em aliviar a penosidade do desempenho do seu trabalho.

Alguns registos ficam para a posteridade.

Pela primeira vez, na rede de Metro do Porto, quando em greve, não há serviços mínimos. Uma vitória: é reconhecido a todos os trabalhadores, sem exceção, o direito à greve.

O conhecimento deste facto, deveria por si só ser estímulo para se encontrar soluções. Na tentativa de evitar este registo histórico, empresa tenta com todas as suas habilidades, até altas horas de sábado, convencer os representantes dos trabalhadores de que a sua proposta é boa, que atenua a penosidade, que tem aumento do poder de compra, nlã, blã, bla. Analisadas as propostas, não é mais que uma mão cheia de nada,

Aumento proposto corresponde mais ou menos à inflação. Redução do tempo de trabalho fica apenas na intenção. E intensões tiveram estes trabalhadores até agora enquanto na realidade as escalas de serviço são cada vez mais penosas.

Urge melhorar as condições de prestação do trabalho. Estes trabalhadores não são trabalhadores apenas para os próximos 7 anos, pelo que não podem aceitar ser exprimidos neste tempo até não terem mais “sumo”.

Este é o exemplo de uma luta com o propósito de melhores condições de trabalho e sua consequente valorização profissional.

Se não há condições de resposta a estes trabalhadores, provavelmente está na hora do poder central assumir as suas responsabilidades e legislar para que a dona da concessão (Metro do Porto) resgate essa mesma concessão.

Certamente com menos intermediários, haverá recursos reforço do quadro de pessoal, melhoria das condições de trabalho e de transporte de passageiros e provavelmente ainda sobrará alguns euros.

Pela coesão e determinação na luta, saúdo os maquinistas do Metro do Porto.

e o Metro parou mesmo...

Sobre o/a autor(a)

Regulador. Membro da Mesa Nacional do Bloco de Esquerda e da concelhia de Valongo.
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