De todas as palavras possíveis quero, nesta altura escolher a palavra MEDO.
Ataques indiscriminados, em que o alvo somos todos/as nós, que surgem do nada, nas alturas mais normais da nossa vida, quando vamos para o trabalho, quando assistimos a um jogo de futebol, quando estamos num espetáculo ou num café numa sexta-feira à noite, têm como primeiro objetivo atirar com o medo para dentro das nossas vidas, impelir-nos a viver olhando sempre por cima do ombro, a desconfiar de quem está ao nosso lado.
O medo é a antítese da Liberdade. Tolhe as nossas ações, contagia as nossas ideias. É perigoso, é corrosivo.
Por isso, perante os ataques em Paris, ouvimos muita coisa, muita conclusão precipitada.
O terrorismo é um problema enorme. É um problema que atinge toda a Humanidade a que urge por um fim. Mas não podemos, nem devemos ignorar os conflitos que lhe deram origem. A invasão do Iraque, baseada numa mentira, tem muito a ver com o que hoje se passa e bem sabemos quem são os responsáveis.
O auto-intitulado “Estado Islâmico” tem armas, tem dinheiro. E os países europeus sabem-no bem. O “Estado islâmico” vende petróleo, e os países europeus sabem-no bem e até o compram. Que mais será preciso acontecer para que a comunidade internacional se centre na questão fulcral da venda de armas?
O auto-intitulado “Estado Islâmico” promove o terror e a morte em massa nos territórios que controla e em vários pontos do globo, não só na Europa. Na Nigéria, no Quénia, no Líbano, na Síria… Nem todos os ataques têm a mesma expressão mediática, mas todas as vítimas merecem o nosso respeito e o nosso comprometimento na defesa da liberdade.
Os milhares de refugiados que chegam à Europa fogem à guerra e ao terror. Recebê-los faz parte da grande tarefa que temos pela frente para combater o medo.
Se deixarmos entrar o medo nas nossas vidas, logo de seguida entra o ódio. Se a resposta ao terror for a guerra, entramos na porta que as bombas em Paris abriram.
Artigo publicado em mediotejo.net a 18 de novembro de 2015