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O filho nunca pródigo

Silva Peneda, ex-ministro de Cavaco, afirmou ontem que ‘as teorias neo-liberais de que o mercado resolvia tudo falharam a toda a linha’...

Silva Peneda, ex-ministro de Cavaco para o emprego e segurança-social, afirmou ontem em pleno prós-e-contras que ‘as teorias neo-liberais de que o mercado resolvia tudo falharam a toda a linha’ e prossegue com ‘temos de aprender com os erros do passado’. O mínimo que se pode dizer é que vem tarde, se se tivesse lembrado disto há 20 anos talvez tivesse sido mais útil. Silva Peneda é o paradoxo. Causa espanto, alegria e repulsa, uma irritação estranha pelo filho nunca pródigo que apesar de tudo mudou de opinião e nos dá razão. Queremos lá saber dos anos e anos que andou pelo mundo a flexibilizar os despedimentos, a criar dívida pública e a fazer cortes na despesa, daqueles que doem (leiam o programa do XI governo constitucional aqui, uma pérola). Pela minha parte nunca compreendi bem a parábola do filho pródigo, ainda me hão de explicar porque é que primeiro ele, o filho mais velho que não fazia nada, tinha direito não só de receber a herança como recebê-la em avanço para a ir estapafurdiar e, segundo, porque é que o irmão mais novo, que trabalhava, tinha obrigatoriamente de ficar contente e alegre quando ele voltou? Não lhe podia ao menos dar um calduço? Mas imagino que é para isso que as heranças servem, ao menos divertiu-se.

Esta malta que andou para aí a desmanchar os nossos direitos e que são a primeira razão para que a minha geração esteja condenada à precariedade não merece o respeitinho que o irmão mais novo ofereceu ao mais velho. Estamos fartos dos pródigos deste país. Já agora para quem não sabe: pródigo é a figura jurídica que denomina aquele que por doença mental é incapaz de gerir o seu património, sendo os poderes de propriedade delegados num familiar. Foram capazes de dar cabo de um país e da sua economia, admitem agora que estavam errados. Sejam coerentes, façam greve prolongada, nós agradecemos.

Mas quem anda calado caladinho é Passos Coelho. O Expresso deu-lhe honras de notícia este fim-de-semana pela estratégia cheia de espírito táctico coordenada com Belém até às presidenciais: estar calado. É de génio. Cavaco Silva assegura retorno garantido e ainda lhe promete um governo como rebuçado. O PSD, que gosta de rebuçados, parece que está disposto a aceitar Passos no governo. É a esta miséria de política sem política que Cavaco quer condenar o país e tudo aquilo de que significativo temos. E é por isso que a greve de todos, uma greve exigente por uma política verdadeira com respostas e palavras de força vai fazer a diferença. Amanhã faço greve.

Sobre o/a autor(a)

Doutorando na FLUL, Investigador do Centro de Estudos de Teatro/Museu Nacional do Teatro e da Dança /ARTHE, bolseiro da FCT
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