Está aqui

O arco da corrupção

Longe vão os brandos costumes. A corrupção em Portugal é tudo menos branda e está indissociavelmente ligada à hegemonia do PS, PSD e CDS. O tristemente célebre arco governativo poderia apelidar-se, na verdade, de arco da corrupção.

Não quero dizer que todos os dirigentes destes partidos são corruptos. Pretendo antes enfatizar que o exercício comum do poder que os caracteriza banalizou o tráfico de influências (alguns chamam-lhe cinicamente «capital social»...), a colonização dos altos patamares da administração pública por grupos de dirigentes que actuam em malfeitoria organizada e o financiamento ilícito destes partidos. Eles não sabem actuar de outra forma. Governar torna-se sinónimo de propiciar mobilidade social aos «amigos» e de conseguir dinheiro para as campanhas eleitorais, forma de prolongar e reproduzir a permanência no poder. Para muitos, a filiação no PS, PSD e CDS é o verdadeiro «elevador social».

Por isso são tão gritantes os silêncios, as hesitações e as fintas em torno de questões relevantes como a dotação de meios capazes às instituições de investigação criminal; a identificação e taxação dos off-shores (onde se faz o branqueamento de capitais), o levantamento sistemático do sigilo bancário, a criminalização do enriquecimento ilícito ou a criação da figura do crime urbanístico.

Nem vale repetir que a credibilidade da democracia se desfaz com a proliferação de casos e escândalos. Eles estão-se nas tintas. Henrique Neto, empresário ligado ao PS, ousa perguntar: "Isto só é possível por os partidos políticos estarem interessados em nunca esclarecer isto. E não apenas o PS, também o PSD e também o CDS-PP. Matam-se uns aos outros na AR por causa de coisas de chacha e aqui, que era uma questão de centenas de milhões de euros, estão calados?".

Está na altura de todos fazermos as perguntas difíceis. Podemos começar por esta: que cumplicidades unem PS, PSD e CDS na recusa a uma comissão de inquérito sobre o caso dos submarinos?!

Sobre o/a autor(a)

Sociólogo, professor universitário. Doutorado em Sociologia da Cultura e da Educação, coordena, desde maio de 2020, o Instituto de Sociologia da Universidade do Porto.
(...)