Nomeações e audições sobre rodas

porAlexandra Manes

08 de junho 2022 - 16:01
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O Conselho de Administração (CA) do Hospital de Santo Espírito da Ilha Terceira nomeou a esposa do Presidente deste mesmo CA para um cargo de direção. O Bloco pediu a audição do Presidente do CA e do Secretário da Saúde para que clarificassem como o governo faz a gestão da coisa pública.

O Conselho de Administração (CA) do Hospital de Santo Espírito da Ilha Terceira nomeou a esposa do Presidente deste mesmo CA para um cargo de direção.

O Bloco de Esquerda pediu a audição do Presidente do CA e do Secretário da Saúde numa tentativa que clarificassem a todas e todos açorianos a forma como este governo faz a gestão da coisa pública.

O Presidente do CA – dr. José Fernando Gomes – justificou a nomeação da sua esposa com base no seu currículo. Nada contra o CV da senhora. No entanto, não nos podemos esquecer de que, embora sendo legal, nada impedia que tivesse sido aberto um processo de recrutamento (procedimento concursal) por uma questão de igualdade de oportunidades, de transparência e, até, de salvaguarda da pessoa nomeada, evitando aquilo que o Presidente do CA denominou como “vexame”.

Na verdade, se a senhora foi exposta a algum “vexame”, deve-o unicamente à deliberação tomada pelo CA. Foi o CA que a colocou sob o escrutínio das pessoas e sob a fiscalização parlamentar.

A tentativa de justificar esta situação com a nomeação da sua esposa em anos anteriores correu mal, porque há uma grande diferença entre o agora e o antes. Essa diferença reside no facto de o marido da pessoa nomeada ser exatamente o atual Presidente do CA.

A audição do Secretário da Saúde foi sobre rodas, literalmente. Quando se pensa já ter visto de tudo, percebemos que há quem nos surpreenda. Refiro-me à forma escolhida por Clélio Meneses – Secretário da Saúde - para participar numa audição parlamentar: dentro de uma viatura em andamento. Quanto a esta escolha, não tecerei mais comentários. Fica à reflexão de todas e todos nós.

Clélio Meneses, como já é habitual, preferiu perder tempo classificando a audição como um não assunto e como se o Bloco de Esquerda estivesse a “criar um caso”, pois a situação tinha ficado resolvida com a renúncia do cargo por parte da pessoa nomeada. O que se “esqueceu” de mencionar foi que a senhora, em questão, não renunciou por motivos éticos, mas sim pelo burburinho gerado na opinião pública.

O Bloco de Esquerda não necessita de criar casos. Os casos são criados pela divisão das coutadas dos CA desta região, resultantes das exigências de PSD, CDS e PPM. Começou com o CA do HDES, foi o CA do HSEIT e agora estamos com o caso Corvo... Isto diz bastante do tipo de governação que temos. A governação dos “nossos” e para os “nossos”, com um sentimento de impunidade assustador.

Embora, tenha tentado contornar algumas questões, acabou por assumir que não concorda com nomeações de familiares, mas nunca explicou por que não tinha interferido como Secretário da Saúde nesta situação, o que nos leva a concluir que, tendo as funções que tem, acaba por ser cúmplice de tudo isto.

José Manuel Bolieiro, em declarações à comunicação social, disse que esta nomeação era inaceitável e que seria resolvida de imediato! O Presidente do CA questionado acerca destas palavras, deixou bem claro que Bolieiro o tinha dito após a renúncia da sua esposa. Alguém anda a tentar tramar o Presidente do Governo Regional passando a ideia de que o mesmo reagia por arrasto e após resolução…

Alexandra Manes
Sobre o/a autor(a)

Alexandra Manes

Deputada do Bloco de Esquerda na Assembleia Regional dos Açores. Licenciada em Educação. Ativista pelos Direitos dos Animais. Coordenadora do Bloco da Ilha Terceira
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