José Sócrates tem todo o direito de voltar à ribalta política e de defender-se das múltiplas acusações que lhe têm feito. O Bloco de Esquerda, que combateu vivamente as políticas do seu Governo, nunca pessoalizou os embates, nem nutre por ele qualquer ódio irracional.
Mas convém, em abono da verdade, referir as omissões de Sócrates, que apenas reconheceu um erro: ter constituído um governo minoritário… Presume-se, pois, que se fosse hoje, Sócrates teria convidado o PSD ou o CDS, ou ambos, para partilharem a experiência governativa.
Sócrates clamou ainda contra a austeridade. Mas importa lembrar que foi o seu governo que lhe abriu a porta! O corte nos salários e nas prestações sociais vêm do seu governo.
Carlos Farinha Rodrigues, economista que se ocupa das questões da desigualdade, escreve em livro recente que os últimos anos representaram um ciclo de políticas sociais de combate à intensidade da pobreza (incluindo a governação Guterres e a primeira governação Sócrates), mas sem conseguir reduzir as desigualdades sociais. Por outras palavras, a ação dos governos PS foi tímida e assistencialista, meramente direcionada para minorar a pobreza extrema. Mas mesmo esse ciclo terminou. E terminou com a troika. E a troika entrou com o PS, o PSD e o CDS.
A austeridade “português suave” é apenas uma variante da ditadura da dívida. Mais cedo ou mais tarde torna-se “hard”. O tempo é de rotura e não de variações sob o mesmo tema…