Não daremos descanso a quem nos quer roubar a esperança

porAna Isabel Silva

21 de janeiro 2024 - 22:46
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Faço parte de uma geração que sabe que aqui não consegue andar com a sua vida para a frente. Há dez anos, a Direita da Troika pedia aos jovens para emigrarem. A maioria absoluta do PS criou e continua a criar todas as condições para terem de emigrar.

O tradicional centrão político está numa encruzilhada. A maioria absoluta do Partido Socialista adensou as ligações entre os interesses privados e o poder político, enquanto que a “direita tradicional” viu o partido do governo a cumprir o seu programa económico. O seu vazio de propostas para responder às necessidades da população encontra aí a sua origem. Hoje, procuram novos caminhos para alcançar o poder, fazendo-se confundir cada vez mais com a narrativa da extrema-direita.

O tradicional centrão político está numa encruzilhada

Há uma semana, um membro da comissão executiva do SNS, em resposta ao caos nas urgências, respondeu o seguinte numa conferência de imprensa: “pontos de vista não são mais que a vista de determinados pontos”. É, por isso, importante analisarmos alguns destes pontos sobre o estado do SNS. Apenas a título de exemplo, analisemos o caso do Hospital de Santo Tirso. No início de dezembro, com toda a pompa e circunstância, inaugurou-se a nova ala de saúde mental nesta unidade de saúde. O investimento é superior a 3,8 milhões de euros, porém, após a inauguração, o edifício fechou e assim se irá manter nos próximos meses. A razão? Falta de profissionais. Afinal não eram pontos de vista, era fogo de vista.

Este exemplo é paradigmático de como a maioria absoluta do PS tem tratado o SNS e os seus profissionais. Analisada com a atenção devida, percebemos que os profissionais que, no futuro, irão integrar esta nova ala estão, neste momento, em formação para conseguirem trabalhar lá. Acreditamos mesmo que não existam profissionais já, no presente, formados para lá trabalhar? Eles existem mas foram empurrados para fora do SNS.

Só o aumento dos salários, o fim do abuso sobre as horas extraordinárias e a opção da dedicação exclusiva salva o SNS e protege as respetivas carreiras. Ao contrário, o PS deseja o aumento da jornada diária para nove horas

Estamos a investir na formação destes profissionais, altamente qualificados, mas ao ritmo a que os especialistas têm saído, não tarda e é preciso estar a formar outros tantos. Atualmente, o investimento público na formação está a ser canalizado diretamente para o aumento do lucro do setor privado. O SNS não pode continuar a perder profissionais, nem os jovens nem os que já estão altamente especializados. Só o aumento dos salários, o fim do abuso sobre as horas extraordinárias e a opção da dedicação exclusiva salva o SNS e protege as respetivas carreiras. Ao contrário, o PS deseja o aumento da jornada diária para nove horas, um valor medieval que não é praticado em nenhum país europeu.

Somos já o país com a taxa de emigração mais elevada de toda a Europa e das maiores do mundo

As novas gerações de médicos são apenas uma das parcelas que constitui o descontentamento geral com a política governativa para com os jovens como eu. Faço parte de uma geração que sabe que aqui não consegue andar com a sua vida para a frente. Há dez anos, a Direita da Troika pedia aos jovens para emigrarem. A maioria absoluta do PS criou e continua a criar todas as condições para terem de emigrar. Somos já o país com a taxa de emigração mais elevada de toda a Europa e das maiores do mundo. Salários mais altos são o que atraem em economias mais diversificadas, industrializadas e diferenciadas.

Em Portugal, pagam-nos com sol e bom tempo. Nada disso serve para ir ao supermercado ou pagar a renda da casa. Todas as medidas do Governo são pura propaganda, como o truque da devolução das propinas. Acordar com sol é bom, mas vida boa é ter dinheiro para arrendar uma casa. E só uma economia de salários mais altos é capaz de garantir essa vida boa. Cidades como Berlim ou Barcelona já implementaram tetos máximos para as rendas. Medida demasiado radical para um Partido Socialista de cariz liberal mas fachada social.

Não estamos condenados a sermos governados pelo PS dos negócios ou pelas Direitas do retrocesso social

Temos um país em que as pessoas vivem com salários muito baixos, que entre o supermercado, a renda e a propina, pouco ou nada sobra. O Bloco responde por outra política, para a maioria da população que está cansada de uma governação que lhes arrasa a esperança num futuro melhor. Sabemos que é o Bloco a resposta para essa mudança. Não estamos condenados a sermos governados pelo PS dos negócios ou pelas Direitas do retrocesso social. É preciso romper com esse estigma, ter uma mensagem de esperança e um projeto de futuro. O Bloco apresenta-se a esta campanha com a força de quem não admite que lhe roubem a esperança por um futuro melhor. A quem nos tentar roubá-la, a esses não lhes daremos descanso.

Ana Isabel Silva
Sobre o/a autor(a)

Ana Isabel Silva

Bioquímica e investigadora doutoranda no I3S
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