E, de repente, ficaram todos indignados. E, de repente, todos viraram críticos de sempre das agências de rating. Foi como se o fervor de união nacional “a la Scolari” tivesse regressado, desta vez sob a forma de resposta unida contra a ofensa ao brio patriótico perpetrada pela Moodys.
Não nos tirem a memória. Lembramo-nos bem de que, há menos de uma semana, a quem pusesse em causa a autoridade sacrossanta destas agências hoje abutres estava destinada uma desqualificação absoluta. Lembramo-nos ainda melhor que foram as notações destas agências que foram assumidas como fundamento incontestável para legitimar a intervenção da troika e o seu alcance arrasador. Nessa altura, Passos Coelho não sentiu nenhum murro no estômago, antes achou que a economia nacional o requeria quanto antes.
E, no entanto, este consenso ofendido evita falar do essencial. E só por isso é consenso. O essencial é saber se é não verdade que Portugal não estará em condições de pagar esta dívida, com os juros fixados pela troika, tendo em conta a recessão profunda que o plano de austeridade impõe ao país. Por aí passa a linha divisória que conta. Ela não separa adeptos das agências e dos seus métodos de críticos destas nebulosas, ela separa adeptos da política de austeridade por elas legitimada de críticos dessa política. Porque quem brada contra a decisão da Moodys só porque ela desprezou o “grande e sério esforço do Governo está agora a fazer para pôr as contas públicas em ordem” através de políticas de orientação recessiva radical alimenta objectivamente as razões que a levaram a tomar aquela posição. Quanto mais recessão, mais inviabilidade de pagamento – não restam dúvidas sobre isso. Toda a indignação é, pois, legítima. Não pela frivolidade e pela leviandade interessada irresponsável das agências de rating, mas contra as opções de política de empobrecimento que lhes serve de pasto.