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A Moda ainda despe animais

A captura de animais selvagens para a extração do seu pêlo ainda é uma prática corrente, mas a nova tendência mundial tem sido a de criar e manter autênticas fábricas vivas de animais, onde infelizmente Portugal também já entrou.

Ainda antes de o Verão terminar e de as primeiras chuvas invadirem as cidades, já estão programadas antecipadamente as novas tendências da moda mundial para a estação Outono/Inverno deste ano. Trata-se de uma época onde as roupas mais quentes marcam a sua presença nos nossos armários e é aqui que o problema começa.

Assim, para este ano já temos a garantia de que cerca de 40 grandes marcas da moda mundial [1 e 2] asseguram a presença de pêlo animal nas suas coleções. A contradição de um material fofo e acolhedor como o pêlo é gritante e contraditório com toda a violência envolvida na sua produção e extração.

A captura de animais selvagens para a extração do seu pêlo ainda é uma prática corrente, mas a nova tendência mundial tem sido a de criar e manter autênticas fábricas vivas de animais(coelhos, chinchilas, cães, gatos, raposas, martas, guaxinins, castores, focas e ursos3), onde infelizmente Portugal também já entrou, no esquema da produção de coelhos e de chinchilas para esta indústria suja4.

Existem 10 factos que devemos ter em conta nesta indústria5:

1. Mais de 50 milhões de animais são violentamente mortos na indústria do pêlo para a moda, todos os anos

2. Os métodos de abate dos animais com pêlo são bárbaros e incluem: o gaseamento, eletrocução ou quebra do pescoço nas quintas de criação e armadilhas criminosas para captura de animais selvagens

3. O pêlo dos animais não é um subproduto da indústria da carne, ou seja, existe uma procura ativa da indústria da moda por este material.

4. A indústria da guarnição de pêlo, ou seja, a utilização de pequenos acessórios de pêlo em malas, roupas, casacos é uma indústria tão grande ou maior do que a indústria dos casacos de pêlo. Ao contrário do que se possa pensar, não se tratam de restos de pêlo animal, mas sim de uma verdadeira indústria de acessórios em pêlo, pelo que adquirir produtos com detalhes em pêlo é um suporte a esta indústria sangrenta.

5. A rotulagem do pêlo animal não é muitas vezes completamente seguro no tipo de pêlo de animal empregue, pelo que o princípio de precaução é o ideal a adoptar, não comprando de todo qualquer produto com pêlo natural.

6. Muitos países europeus já baniram ou estão a empreender a tentativa de eliminar a produção intensiva de animais de pêlo, dado que a única forma de esta indústria ser viável financeiramente é não respeitando parâmetros básicos de bem-estar animal que a União Europeia está a implementar.

7. As quintas animais não são uma alternativa humanista à captura por armadilha e a legislação muitas vezes peca por omissão nesta indústria.

8. As focas ainda são caçadas pela sua pele. A caça canadiana à foca é ainda uma das maiores matanças comerciais de mamíferos marinhos, tendo sido autorizado o abate de cerca de 1 milhão de focas entre 2003 e 2005. A utilização da pele de foca na moda é um dos factores para o seu abate.

9. A indústria do pêlo tem sido vista como um potenciador económico dos países e esse tem sido um dos argumentos justificativos da sua manutenção, mas ao longo da história temos assistido a outras práticas económicas que foram abolidas por se terem tornado desenquadradas dos parâmetros éticos e sociais modernos, tal como acontece atualmente com esta indústria que não se justifica mais.

10. A indústria do pêlo animal é uma ameaça ambiental e para a vida selvagem, devido aos elevados custos energéticos envolvidos na sua produção, poluição, degradação dos solos, redução das populações de vida selvagem, incluindo espécies animais em vias de extinção que são capturadas e mortas por acidente nestas armadilhas.

O nosso contributo para a mudança deste paradigma surge através de um aspeto capitalista: o nosso poder de consumo, que revela ser um fator determinante na abolição desta forma de violência sobre animais inocentes. A par da educação e sensibilização para esta causa, é importante o boicote na compra/consumo de pêlo animal, optando em alternativa pelas diversas possibilidades de pêlo sintético que já vingam no mercado mundial.

A mudança passa pela nossa carteira e é importante não descurar o papel que o nosso consumo diário pode determinar na mudança desta realidade de holocausto animal.


Sobre o/a autor(a)

Ativista dos direitos dos animais / Estudante Universitário
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