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A matança

A Amazónia não é o quintal de Bolsonaro. O que está a acontecer no Brasil é assunto nosso também. A destruição de povos indígenas e de património da Humanidade é assunto nosso também.

A Amazónia é a maior floresta tropical do Mundo e dela depende o que resta de equilíbrio ambiental no planeta. Alberga um terço da biodiversidade mundial, para além de povos indígenas milenares que são a principal barreira à devastação da área florestal amazónica. Hoje, mais que nunca, estão ambos em risco. Indígenas e floresta sofrem a mesma ameaça do agronegócio e da exploração mineira do Brasil.

Os alertas sucedem-se. Um editorial do jornal britânico "The Guardian" deste mês pedia uma tomada de ação da Europa, enquanto dava conta da escalada da desflorestação: julho será o primeiro mês em cinco anos em que o Brasil perde uma zona florestal equivalente à área metropolitana de Londres. E muita desta atividade está a acontecer em reserva indígena, à medida que o Governo brasileiro legitima esta devastação. Não é por acaso que o presidente de extrema-direita, Jair Bolsonaro, retirou a delimitação destas reservas à Fundação Nacional do Índio para a entregar o Ministério da Agricultura. Não é por acaso que as instituições e ONG de proteção ambiental estão a ser desmanteladas por falta de fundos e as inspeções oficiais reduzidas em 20%. Não é por acaso que o número de produtos agrotóxicos legalizados disparou desde 2015.

No dia 21 de julho, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência divulgou um manifesto de apoio ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, e ao seu presidente, que foi criticado por Bolsonaro por ter divulgado dados sobre a destruição da floresta amazónica.

E também esta semana a relatora especial da ONU para os povos indígenas, Victoria Tauli-Corpuz, denunciou a violência das ocupações das terras indígenas por exploradores ilegais de minério, legitimadas e incentivadas pelas posições do Governo de Bolsonaro. Estas declarações foram motivadas pela denúncia, por índios Wajãpi, do assassinato do seu líder, Emyra Wajãpi, na sequência de um ataque à aldeia Mariry.

A Amazónia não é o quintal de Bolsonaro. O que está a acontecer no Brasil é assunto nosso também. A destruição de povos indígenas e de património da Humanidade é assunto nosso também. É de toda a gente.

Termino com as palavras de Tauli-Corpuz: "Espero que países da Europa que fecharam esses acordos comerciais relembrem ao Brasil as suas responsabilidades e compromissos com os direitos dos indígenas, assim como com a proteção da Amazónia. A proteção da Amazónia não é apenas um assunto do Brasil. Mas para todo o Mundo".

Está em curso uma matança. Vamos ficar a assistir?

Artigo publicado no “Jornal de Notícias” a 30 de julho de 2019

Sobre o/a autor(a)

Deputada. Dirigente do Bloco de Esquerda. Economista.
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