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Lisboa no dia seguinte

O PS liderado em Lisboa por Fernando Medina perdeu a câmara depois de 14 anos de governação, não por ter perdido votos para a esquerda, mas porque perdeu para a direita. Com a direita na presidência da câmara, o Bloco afirma-se como oposição.

Carlos Moedas ganhou a presidência da câmara de Lisboa, facto que nenhuma sondagem indicava. Essa vitória da coligação de direita deu-se ao centro, com a deslocação de votos do PS para o PSD/CDS, visto que à direita IL e Chega tiraram algum voto a Moedas. O PS liderado em Lisboa por Fernando Medina perdeu a câmara depois de 14 anos de governação, não por ter perdido votos para a esquerda, mas porque perdeu para a direita.

As razões que levaram Fernando Medina a perder Lisboa são complexas, mas não terá ajudado a enorme abstenção ou o Russiagate. É possível que o PS tenha pago em Lisboa a má campanha de António Costa. Entre o cinismo sobre a Galp de Matosinhos e a bazuca feita slogan de comício municipal, o PS minou as suas próprias campanhas.

A esquerda em Lisboa manteve a sua representação. A CDU com dois vereadores, tal como o Bloco de Esquerda, que mantém a vereação.

Agora Carlos Moedas é presidente de uma câmara com sete vereadores da sua coligação, sete do PS, dois do PCP e uma do Bloco de Esquerda.

O Bloco de Esquerda fez uma campanha clara, exigindo habitação a preços acessíveis, reabilitação dos bairros municipais, transportes públicos gratuitos e de qualidade, combate às alterações climáticas, cultura nas freguesias, igualdade plena. A Beatriz Gomes Dias foi a expressão máxima desse programa que não deixa ninguém para trás e fez uma campanha extraordinária, que se notou pela alegria que contagiou o Bloco em Lisboa.

Com a direita na presidência da câmara, o Bloco afirma-se como oposição. Não abandonamos a exigência de um parque público de casas com preços que as pessoas podem pagar, não aceitaremos qualquer tentativa de privatização da Carris, exigiremos que as políticas de combate às alterações climáticas e de mobilidade suave avancem. Da mesma forma enfrentaremos cada tentativa de reversão dos avanços que o Bloco conseguiu, como nas salas de consumo assistido, nas casas para as pessoas em situação de sem abrigo, na tarifa social da água ou na solidariedade para com as pessoas refugiadas. Nem um passo atrás.

Moedas, presidente minoritário, pode contar com a oposição do Bloco desde o primeiro dia, uma oposição feita em nome do direito à cidade, a mesma cidade que Moedas quer transformar em negócio para os que sempre defendeu.

Sobre o/a autor(a)

Engenheiro e mestre em políticas públicas. Dirigente do Bloco.
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