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Jornalismo devia ser verdade
Não foi com surpresa que li o editorial de hoje [2 de março de 2022] do DN, assinado por Joana Petiz. Já sabia, logo que ouvi uma deputada do Bloco mostrar a ligação entre o dono do DN e um oligarca russo, que viria retaliação. Aqui está, chegou hoje, não demorou dois dias. Como explica Petiz, "não há atenuantes para quem vive a atirar lama à ventoinha para sujar todos à sua volta e se fazer passar por ímpio (saberá ela o que a palavra quer dizer?) enquanto procura argumentos para suavizar os motivos de quem trouxe a guerra à Europa". Está tudo dito, é mesmo tempo de vingança, "não há atenuantes".
O problema é que a vingança é atamancada. A editorialista (é um editorial e não um artigo de opinião) dispara em todas as direções, usando dois factos: 1. o Bloco votou contra medidas de solidariedade com a Ucrânia no parlamento europeu, 2. o Bloco recusou-se a participar nas manifestações de solidariedade com o país invadido. O problema é que se trata de duas mentiras. O Bloco participou na manifestação, como confirmado por todas as televisões e provavelmente pelo jornalista do DN, e aprovou medidas de apoio aos refugiados, às vítimas da guerra e ao povo ucraniano no parlamento europeu. A "atenuante" é a mentira.
Petiz veio horas depois apresentar um "pedido de desculpas", "esperando com esta (nova) versão repor a verdade". Pois é, a "versão" anterior era mentira. Diz ela que foi um "erro por falta de informação", o que teria evitado lendo o seu próprio jornal.
Mas o curioso é aquilo que Petiz mantém no texto, depois de corrigida a "versão" da mentira. Protesta ela contra a crítica aos Vistos Gold, coitados dos russos beneficiários, a esquerda parece que quer "apedrejá-los a todos", por serem "culpados de serem ricos". E garante mais, que a esquerda entenderia que "não devia haver iniciativa e propriedade privada", para, e aqui torna-se curioso, "distribuir toda a riqueza do país" por quem eles "decidissem". E, claro, protesta indignada pelo facto de a esquerda se atrever a contestar a União e o euro, ou a Nato.
Pois é, a mentira serviu para a vingança e foi um tropeção. Mas, se pensava que o jornalismo exige a verdade, fique a saber que há quem, quando não usa a verdade, pode ainda instrumentalizar a ideologia. Vai haver mais vinganças. O DN não merecia isto.
Artigo publicado na página de Francisco Louçã no facebook
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