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IP3: até quando uma história trágica?

A história do IP3 é trágica e é neste registo que continua a ser escrita.

O Itinerário Principal n.º 3 foi inaugurado em 1991 pelo então primeiro-ministro Cavaco Silva, almejava ligar a Figueira da Foz a Chaves, mas logo aqui ficou além do objetivo, ficando circunscrito à ligação entre Coimbra e Viseu. Foi, desde sempre, uma via associada e pejada de acidentes, demasiados deles fatais. Por esse motivo chegou mesmo a ser conhecida como “estrada da morte”. A constante perda de vidas fez com que em 2001 fosse criada a Associação de Sobreviventes do IP3. Esta associação reivindicava então, através de um abaixo-assinado, a adopção de medidas que aumentassem a segurança da via. Uma delas, a evidente e única capaz de colocar um ponto final na fatídica história do IP3, falava da criação de duas vias em cada sentido da faixa de rodagem (2+2), com um separador central em toda a sua extensão.

O Bloco de Esquerda defende esta opção para a via, um itinerário principal digno no nome, não portajado, com duas vias em cada sentido separadas centralmente em toda a extensão. Uma estrada que sirva as populações com o máximo de segurança possível.

Volvidos quase 30 anos do seu nascimento, em 2019 (finalmente!) avançaram as obras de requalificação do IP3, que hoje continuam, lentamente e com um atraso, no melhor cenário possível, de dois anos. Continuam também os sinistros, por vezes mortais.

Ao longo dos anos muita gente testemunhou, denunciou e reivindicou uma solução para o IP3. Uma via subdimensionada para o tráfego que alberga diariamente e que faz uma ligação chave, essencial e até mesmo simbólica entre o interior norte e o litoral. Tanto para empresas, como para as populações, o IP3 é o que existe, é um circuito percorrido com regularidade e não existem alternativas viáveis.

O seu estado de grande degradação, apesar de óbvio, prolongou-se durante anos: as quedas de pedras para a via, a existência de zonas de grande concentração de lençóis de água, o facto de ter apenas um separador central em algumas zonas, troços de estrada que estão inutilizáveis e a cair para o Mondego desde que tenho memória… São fatores que de forma negligente aumentaram o risco de sinistralidade na via e que muito preocuparam quem vive esta realidade, mas pouco peso parecem ter na requalificação da via e conclusão da obra.

É de lamentar que a decisão de transformar o IP3 numa estrada digna não tenha vindo antes.

É de lamentar que as obras em curso, com um prazo de execução previsto inicialmente, já longo, de 4 anos estejam concluídas, talvez e na melhor das hipóteses, em 2026, períodos muito longos para a urgência de um problema que se foi arrastando ao longo de muitos anos, com perda de muitas vidas e com elevados custos para os sinistrados.

É de lamentar que o projeto implique a persistência de 12% do percurso em perfil de 2+1 faixas, que 3% do percurso conserve apenas uma faixa em cada sentido, que troços já intervencionados continuem sem berma de segurança.

Continuaremos a reivindicar uma solução de mobilidade segura e a sublinhar que as obras não decorrem apenas com dois anos de atraso, pois são dois anos a somar a décadas de indiferença, dois anos que podem ser determinantes para a sobrevivência de quem diariamente depende do IP3 para trabalhar, estudar, ir a consultas… enfim, viver!

Artigo publicado no Interior do Avesso a 19 de dezembro de 2021

Sobre o/a autor(a)

Ativista. Formada em Antropologia (Licenciatura e Mestrado). Dirigente do Bloco de Esquerda
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