Manuela Ferreira Leite gosta de brincar com a democracia. Está-lhe na massa do sangue, que se há-de fazer? Sai-lhe é o humor sempre para o mesmo lado: suspender direitos e pôr as liberdades entre parênteses. É humor da velha escola sul-americana, está bem de ver.
Num rasgo de fino recorte, sugeriu há meses que se suspendesse a democracia por uns tempos para assim ser possível pôr em prática uma série de políticas de excepção. Lá estava a senhora a reinar, claro. Pôs a coisa de tal maneira que até pareceu que estava a falar a sério. Mas isso foi só para gente sisuda, que não sabe apreciar o humor inteligente. Porque o que ela realmente quis dizer aos portugueses foi: “´bora lá brincar ao estado de emergência? Agora fazia de conta que não havia Constituição e que era proibido protestar contra as medidas que o governo decidisse, ok? Ganha quem conseguir impor mais políticas anti-sociais. ‘bora?”
Lá fora houve quem também fizesse más interpretações da divertida chalaça. Os senhores da troika, por exemplo. Deve-lhes a brincadeira ter chegado aos ouvidos, não a perceberam e toca de pôr a soberania popular entre parênteses e de fazer do desrespeito pela Constituição uma espécie de passatempo para os poucos tempos livres entre os ataques aos direitos sociais básicos das pessoas. Está visto, não têm mesmo sentido de humor nenhum.
Há dias, a Dra. Ferreira Leite quis brincar outra vez. Desta vez com o Governo. E vai de lhe propor que “durante dois, três anos a educação não seja gratuita, sendo paga por quem pode; durante dois, três anos a saúde não seja gratuita, sendo paga por quem pode". E se o Governo gostou da proposta de brincadeira! É que se há ministros com vontade e com jeito para brincar à destruição dos serviços públicos são Nuno Crato e Paulo Macedo. E assim sempre conseguem que o Ministro Álvaro – que fez, há semanas atrás, humor deste tipo nos transportes – não se fique a rir.
É assim o humor da Dra. Ferreira Leite: tão sofisticado que até parece recado ao Governo.