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Homofobia, uma invenção do “Pai do Conservadorismo”

Esta semana, um estudo da Ex-Aequo mostra que o bullying homofóbico já chegou às escolas do ensino básico. Nunca fez tanto sentido o projeto-lei do Bloco e a luta do dia-a-dia contra a violência de género e a homofobia.

Esta semana, um estudo da Ex-Aequo mostra que o bullying homofóbico já chegou às escolas do ensino básico. Em 2011 e 2012 foram reportados casos de bullying homofóbico onde os protagonistas era colegas de turma mas também professores. Ou porque a nota do aluno descia depois do professor saber que ele era gay ou porque os colegas diminuíam o colega por este usar camisolas cor-de-rosa ou ténis coloridos.

“Para além dos 42% que se dizem vítimas diretas de bullying homofóbico, 67% dos jovens declararam tê-lo presenciado e 85% afirmaram já ter ouvido comentários homofóbicos na escola que frequentam.”1 Os números mais atuais são estes e assustam. A Ex-Aequo defende como medida de emergência que todos os estabelecimentos de ensino coloquem já no seu regulamento interno o bullying homofóbico na lista de comportamentos proibidos.

Mas sabemos bem que isso não chega nem tão pouco resolve o problema. Em Portugal, o casamento entre pessoas do mesmo sexo foi um grande avanço civilizacional e simbolizou o grande passo que a sociedade civil deu, depois de muitos pequenos caminhos percorridos para que ela fosse aprovada. Mas não podemos baixar os braços depois da lei estar aprovada. Todos os dias são dias para o conservadorismo pôr em causa o casamento gay (ou a legalização do aborto, como o CDS anda a falar há mais de um ano).

Uma educação contra o preconceito é a solução para uma sociedade que se respeita a si mesma. Olhemos um bom exemplo.

No dia 3 de Maio, um liceu em Roma vai receber a primeira de muitas sessões em Itália sobre o combate contra a Homofobia e que contará com a presença de Timothy Kurek. Kurek é um jovem inglês de Nashville que escreveu recentemente um livro sobre a sua experiência desde que assumiu publicamente a sua orientação sexual como homossexual. A obra chama-se "La croce nel ripostiglio" e ainda só existe edição italiana2. Este projeto que consiste num grupo de conversas com pais, alunos, professores e resto da comunidade escolar é um projeto completamente autónomo do Ministério da Educação Italiano, criado neste liceu no centro de Roma e tem como principal propósito discutir aquilo que não se fala nas aulas; temáticas sociais como educação sexual, bullying, racismo, direitos dos animais, ambiente, entre outras.

Em Portugal, o projeto-lei que legisla a existência de Educação Sexual nas escolas existe desde 1984, mas nunca foi realmente executado em nenhuma escola do país. Os estabelecimentos de ensino que hoje conhecem experiências de aprendizagem no âmbito da educação sexual têm-nas quase sempre por projetos paralelos ou autónomos, muitas vezes, sem apoio do Estado.

O Bloco de Esquerda, desde que tem representação parlamentar, apresentou em todas as legislaturas, projetos-leis que tinham em conta a criação de uma disciplina de Educação Sexual no ensino básico, de forma a combater a homofobia, a transfobia, a criar uma base para uma vida sexual saudável e sem preconceitos.

Anteontem foi eleito o novo Papa. Diz que, contra o plano de Deus, o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a adoção de crianças por casais homossexuais são obras do “Pai da Mentira”. Nunca fez tanto sentido o projeto-lei do Bloco e a luta do dia-a-dia contra a violência de género e a homofobia, para que existam pais que não mergulhem em mentiras e filhos que não sejam engolidos por violência nas escolas que frequentam.


Sobre o/a autor(a)

Museólogo. Investigador no Centro de Estudos Transdisciplinares “Cultura, Espaço e Memória”, Universidade do Porto
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