Na campanha para as eleições autárquicas de 2017, Santana Lopes assegurava, a alto e bom som, o quanto estava na moda bater no PSD. Menos de um ano depois, prefere fragmentá-lo em pedaços, batendo bolas por fora depois de malhar contra o muro interno, mas sem arrastar (ainda) alguns dos seus principais batedores. Enquanto a recolha de assinaturas para a constituição da "Aliança" decorre a bom ritmo, não há nomes sonantes do PSD que prefiram correr na pista individual de Santana, fora do trilho de sempre. Talvez porque seja unânime a percepção de que a "Aliança" é tão-só a concretização do projecto pessoal de um homem viciado em eleições, incapaz de abdicar do teste de aceitação popular que o seu partido já não lhe proporcionará. No momento em que Rui Rio é a última esperança do PSD para purgar o partido da lógica dos interesses que a deriva neoliberal de Pedro Passos Coelho petrificou, convém a muitos adversários internos de Rio que alguém navegue à vista, impedindo aquilo que mesmo uma vitória do PS nas próximas legislativas não impedirá face à aproximação de Rui Rio a António Costa: o regresso do PSD aos arredores da sua matriz social-democrata para ressuscitar, mais cedo do que tarde, o bloco central.
Na lógica dos interesses, é natural que Santana Lopes já não tenha interesse no PSD. Outros protagonistas esperam, com natural ansiedade e pérfida estima, pelo fim precoce do actual líder. Nessa fila laranja de sucessão, não há lugar para Santana. Na ausência de reflexo, prefere a Oposição. E, perante a sua história política, percebe-se bem a preocupação de muitos sectores à Direita: Santana é um especialista em segundos lugares. O ataque ao ceptro de líder da Oposição far-se-á tão mais forte quanto mais Rio se encostar ao PS e Cristas se afastar do eleitorado ao centro só porque a "Aliança" existe. Esse "lugar de ninguém" da Direita portuguesa está, finalmente, prestes a ser ocupado por uma inequívoca vontade de fragmentação, curiosamente em contraciclo com uma histórica e inusitada união das esquerdas. A Direita pode querer mas já nunca será capaz de uma geringonça. Como os tempos mudam.
Não haverá outro partido que Santana Lopes possa criar caso não ganhe as eleições ou, pés à terra, a liderança da Oposição. Nesse sentido, será bom contar com ele por muito tempo, enquanto aguarda pelo fenómeno de arrastamento no PSD que um eventual desastre eleitoral do partido ditará como inevitável. Sobra a pergunta: se o partido dos interesses sair do PSD para abraçar a "Aliança" e Rui Rio definhar pela purga libertária dentro de portas à espera do abraço do bloco central, o que restará do PSD?
Artigo publicado no “Jornal de Notícias” a 29 de agosto de 2018