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A Geografia dos Direitos Animais

Os estudantes universitários refletem muitas vezes a herança de pensamento e ação que vai vingar durante as décadas seguintes.

Um estudo científico publicado este ano na revista Animal Welfare 2012; 21 (1):87-1001 dá-nos uma visão interessante sobre a representação concetual da causa animal na comunidade estudantil universitária em 103 universidades da Europa e Ásia.

Este estudo centrou-se em 43 aspetos, como por exemplo, o tipo de função social associada aos animais, o abate de animais, o bem-estar animal, a experimentação animal, a alteração genética de animais, o ambiente para os animais ou as atitudes sociais para com os animais, etc.

A diferença entre adotar 'direitos dos animais' ou o 'bem-estar animal' marca neste estudo uma posição política inequívoca.

Os 'direitos animais' consistem em eliminar todas as formas humanas de exploração de animais que incluem a criação e abate de gado para consumo humano ou animal; alimentação com carne; caça; experimentação médica ou veterinária; jardins zoológicos (independentemente de serem bem ou mal geridos); circos; rodeos; espetáculos com cavalos ou cães; animais usados em publicidade na televisão, cinema ou outros (independentemente de serem bem ou mal tratados), cães-guia para pessoas cegas; cães-polícia; cães de salvamento e a prática de possuir animais de estimação.2

O 'bem-estar animal' pretende prevenir o sofrimento e crueldade nos animais e fornecer cuidados básicos e alojamento aos animais de estimação. O 'bem-estar animal' inclui muitas vezes o financiamento e gestão de abrigos para animais (para fornecer santuários para animais abandonados, violentados, sem-abrigo ou não desejados, colocando-os em bons lares, quando possível; fornecendo eutanásia indolor para os animais que não se adaptam e educar o público para a prática da castração/esterilização de animais, com vista a evitar o abandono posterior de mais animais); a implementação do estatuto anti-crueldade nos animais; a criação, manutenção e lóbi de legislação que garanta padrões humanos de cuidados com o gado, animais de laboratório, animais de espetáculo e animais de estimação.3

As conclusões neste estudo foram: os estudantes de países europeus manifestaram mais preocupação sobre o 'bem-estar animal' do que os estudantes de países asiáticos, o que foi explicado parcialmente nos estudantes europeus pela correlação positiva do apoio financeiro e a preocupação sobre 'bem-estar animal' e 'direitos animais' demonstrados. Os estudantes de países da Europa do Sul e Central evidenciaram mais preocupação pelos 'direitos animais' e práticas não naturais associadas a animais. Por outro lado, os estudantes de países comunistas ou ex-comunistas na Ásia e na Europa mostraram mais preocupação sobre o abate de animais, enquanto os estudantes do Norte da Europa manifestaram menos preocupação neste tema. As semelhanças regionais entre países vizinhos mostraram-se similares em resposta ao mesmos temas animais e não se evidenciaram diferenças entre grupos étnicos dentro de cada país. Assim, demonstraram-se diferenças nacionais e continentais nas atitudes sobre 'bem-estar animal' e 'direitos animais' em estudantes europeus e asiáticos, que aparentaram surgir como o resultado da situação sócio-política nas regiões, mais do que diferenças religiosas ou outros aspetos.

Apesar do interesse e preocupação com a problemática animal já presente em todo o mundo, em particular na Europa, existe ainda muito trabalho a ser promovido e implementado, em particular no meio académico, onde ainda se assistem a práticas arcaicas de experimentação animal, com o sacrifício de rãs e ratos em escolas secundárias e universidades em Portugal, a ausência ou recusa na adoção de modelos animais alternativos como os modelos in silico (softwares de simulação de resultados fisiológicos, sistémicos, moleculares; bioinformática, etc.) ou até a simples inclusão de conteúdos escolares no ensino obrigatório e universitário que abordem o tema da senciência animal (capacidade de sofrer ou sentir prazer ou felicidade4).

Apesar de a legitimação legislativa crescente e do reconhecimento social ir trazendo uma segurança acrescida na melhoria da realidade animal em Portugal, ainda continua a ser essencial a contestação e reivindicação de mais proteção e direitos para os animais e de mais deveres e regulamentação para os humanos, nesta relação que se pretende mais justa e ética.


Sobre o/a autor(a)

Ativista dos direitos dos animais / Estudante Universitário
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