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A Função Cristas

Talvez um dia conheçamos, por escrito, exatamente o que saiu do congresso do CDS.

Decorreu no fim de semana passado, em Gondomar, o Congresso do CDS-PP.

A primeira surpresa foi a apresentação de uma lista alternativa à de Assunção Cristas, encabeçada pelo deputado Filipe Lodo d’Ávila. A lista de Filipe Lobo d’ Ávila ao Conselho Nacional teve 23% dos votos. Assunção Cristas teve 75,5%. Sobre as diferenças na proposta política, é uma incógnita.

Ribeiro e Castro, na sua intervenção no congresso, deixa um conselho aos militantes e atuais dirigentes do partido: "É falso dizer que ganhámos as eleições". O argumento que a Direita revanchista tem utilizado desde novembro tem mesmo os dias contados. A falta de argumentos políticos tem marcado o debate parlamentar do lado das bancadas agora na oposição. Quando perguntamos ao PSD porque é que não está sentado nas cadeiras do governo já que venceu as eleições, o PSD responde com a «tradição», seja lá o que isso for. Agora, o histórico militante do CDS-PP Ribeiro e Castro decidiu explicar aos seus colegas de partido o funcionamento da democracia. Esperemos que tenha resultado.

Sobre Paulo Portas, mais dúvidas do que certezas. Resta saber para onde vai, depois de sair da liderança do partido. O tempo o dirá e, tenho para mim, que conheceremos a resposta mais cedo do que tarde.

Só faltou mesmo proposta política para os problemas do país. Talvez um dia conheçamos, por escrito, exatamente o que saiu do congresso do CDS. Até lá, ficamos na dúvida: partido dos contribuintes ou partido dos cortes nas pensões?

Será essa a função de Cristas. No habitual populismo que o CDS já nos habituou, o posicionamento político depende do facto de serem poder ou oposição. Será essa a função de Cristas, o continuar de um malabarismo tático a que Paulo Portas nos habituou, na irrevogável forma de governar sempre em nome dos mais desprotegidos, ao mesmo tempo que cortava salários e pensões, destruía os serviços públicos e beneficiava fiscalmente quem apresentava mais lucros no país. Agora, na oposição, o jogo de Cristas é diferente: esconder o papel do seu partido nos últimos quatro anos de governação de Direita e por em cima da mesa as propostas que sempre reprovaram durante esse tempo. Tenhamos memória, ela é uma arma política no combate ao populismo.

Artigo publicado em “Vivacidade” em 13 de março de 2016

Sobre o/a autor(a)

Museólogo. Investigador no Centro de Estudos Transdisciplinares “Cultura, Espaço e Memória”, Universidade do Porto
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