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A falta de cultura do executivo municipal em Santarém

A gestão cultural de um município tem o potencial de ser um fator de desenvolvimento e de atração de gerações mais novas para visitarem e se fixarem no concelho. No entanto, a Câmara Municipal limita-se, praticamente, a investir na tauromaquia.
Cultura - Imagem de Francisco Cordeiro

Apesar da importância central que a cultura tem nas nossas vidas, dois terços dos trabalhadores das artes e espetáculos viviam em 2016 em situação de precariedade (30% auferiam anualmente até 3 mil euros) 1 e a verba do orçamento de estado de 2021 para este setor é de apenas 0,2%.

Como diz a atriz e encenadora Sara Barros Leitão “A cultura é promoção do pensamento. Público que consome cultura é mais atento, mais exigente ao mundo e menos fácil de domesticar e isso é tão importante”. Também durante a pandemia muitos encontraram na música, no cinema, na pintura ou noutras artes uma forma de ajudar a ultrapassar os períodos de isolamento. Por isso é difícil aceitar a precariedade destes trabalhadores e a falta de investimento público.

Felizmente, Santarém tem uma cultura rica. Começando pelo património edificado, muito dele com séculos de existência, passando pelos pintores, ilustradores, músicos, dramaturgos e artesãos que aqui residem. Existem igualmente associações com um trabalho muito importante nesta área.

E o que faz a Câmara Municipal? Parece-me que a ação do executivo tem sido errada.

Já antes da pandemia se encontravam praticamente todos os monumentos históricos encerrados ao público.

No que diz respeito à agenda cultural, o executivo preferiu concessionar a gestão da cultura a uma empresa privada. Esta privatização é acompanhada por uma visão de cultura como entretenimento e negócio, que retira qualquer palco à criação local. Ainda está bem presente o afastamento do anterior programador do teatro Sá da Bandeira, que apostava em peças escritas e representadas por artistas locais.

Também está presente na memória de todos a desautorização de pintura ao artista João Domingos de um mural em homenagem ao Bernardo Santareno, com a frase do dramaturgo “Lutem para que o fascismo não torne a acontecer neste país.”2

A gestão cultural de um município tem o potencial de ser um fator de desenvolvimento e de atração de gerações mais novas para visitarem e se fixarem no concelho, tão necessária em Santarém. No entanto, a Câmara Municipal limita-se, praticamente, a investir na tauromaquia, defendendo até o acesso de crianças a esta atividade violenta.

Concluo assim que o executivo municipal em Santarém tem falta de cultura, nomeadamente de cultura democrática. O problema é que quer impor a sua falta de cultura a todos os habitantes do concelho. Cabe a nós não deixar que tenham sucesso.

O autor pretende reconhecer a importância da vida e da obra de Carlos Oliveira (Chona), que nos deixou o mês passado.

Notas:

1 Informação recolhida de um inquérito promovido pelo CENA – Sindicato dos Músicos, dos Profissionais do Espetáculo e do Audiovisual

Sobre o/a autor(a)

Ativista. Mestrando em Economia e Políticas Públicas
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