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A esponja laranja

O que o Governo subtrai aos salários e pensões vai ter o topete de facilitar ao desgoverno financeiro da Madeira?

A dívida da Região Autónoma da Madeira atinge actualmente valores gigantescos, próximos dos 7 mil milhões de euros. Só no ano de 2010, a dívida aumentou em perto de mil milhões de euros. Preocupante em si mesma, esta situação é politicamente insuportável se se tiver em conta, por um lado, que os empréstimos contraídos em anda têm contribuído para fazer face à pobreza e às desigualdades e, por outro, que o consulado jardinista continua a viver à sombra da ausência de lei de incompatibilidades entre os cargos públicos e os negócios privados.

Com o desplante que lhe é permitido pela complacência de sucessivos governos da República para com os seus desmandos financeiros e políticos, Alberto João Jardim veio repetir a rábula do costume: que a responsabilidade pelo agigantamento da dívida da RAM é do continente e que assim tivesse mais e mais autonomia e nada disto se teria passado. Mas disse mais e mais importante: que estava perfeitamente consciente de estar a provocar um novo desvio entre o orçamentado e o gasto – o que mostra o seu zelo, enquanto governante, pelo cumprimento da lei – mas que antecipava a celebração de um acordo com o amigo Passos Coelho para resolver a falta de liquidez nos cofres da RAM.

O protagonista desta história é pois o Governo e Jardim é apenas um figurante menor. Ponhamos todos os holofotes sobre Passos Coelho e Vítor Gaspar. Em ano eleitoral na Madeira, vão eles, irresponsavelmente, passar uma esponja laranja sobre o regabofe das contas da Quinta Vigia e deitar dinheiro sobre o buraco imenso deixado pelo crédito que o Tribunal de Contas qualifica invariavelmente como irregular? De que acordo fala Jardim, tão serena e convictamente? O que o Governo subtrai aos salários e pensões vai ter o topete de facilitar ao desgoverno financeiro da Madeira?

Sobre o/a autor(a)

Professor Universitário. Dirigente do Bloco de Esquerda
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