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Em Madrid para fechar Almaraz

A mobilização ibérica antinuclear de hoje em Madrid tem a importância essencial de não deixar as coisas ao sabor do tempo que as energéticas espanholas e o corrupto PP de Rajoy querem determinar.

A equação é relativamente simples: ou as centrais nucleares espanholas entram em fase de desativação e dão lugar à expansão das energias renováveis, ou o nuclear continua a bloquear o processo de transição energética em Espanha, com agravamento de todos os problemas de segurança e ambientais que decorrem da crescente obsolescência daqueles reatores nucleares.

Almaraz é a mais potente do Estado espanhol e a que deverá requerer em primeiro lugar a renovação da licença de operação para depois de 2020. Tem um papel central neste confronto entre os interesses imediatistas das empresas elétricas espanholas, apoiados pelo governo de Rajoy, e quem defende a passagem para as renováveis, a sustentabilidade ambiental e a segurança das populações e dos territórios.

Caso o Conselho de Segurança Nuclear e o Ministério da Industria espanhóis autorizem o prolongamento da vida útil de Almaraz, o sinal fica dado para que o ciclo de produção a partir do nuclear perdure, as outras centrais também requeiram a extensão das suas licenças, todo o processo de transição energética sofra entraves e o risco de acidentes nucleares com efeitos devastadores permaneça. Pelo contrário, se Almaraz tiver de encerrar, o nuclear em Espanha terá os dias contados, tal como está a acontecer na maior parte da Europa, o mix energético ter-se-á de deslocar para as renováveis e o perigo nuclear diminuirá.

A decisão sobre esta matéria depende dos órgãos de soberania espanhóis. Contará para isso a capacidade de mobilização da opinião pública e eventuais reconfigurações no respetivo quadro político. Porém, o Estado português, mandatado pela Assembleia da República para defender o encerramento de Almaraz, não pode deixar de entrar neste debate e utilizar todos os seus recursos nas relações bilaterais e no contexto da UE para influenciar uma decisão que respeite a opção energética portuguesa não nuclear.

O nosso ministro do Ambiente questionado sobre o assunto tem optado pelo estilo “low profile” que, aparentemente, não aquece nem arrefece, mas que cria a ilusão de que o tempo resolverá o problema. No Expresso, acaba de repetir afirmações como “o tempo corre a desfavor do nuclear, por razões políticas e de opinião pública e por razões económico-financeiras”.

Ora, na realidade o senhor ministro nada tem feito para criar as razões políticas e de opinião pública que contribuam para ajudar o tempo. Quanto às económico-financeiras, essas estão do lado da Iberdrola, Endesa e Fenosa que preferem continuar a obter lucros fabulosos com centrais já amortizadas, sem terem de investir em novos equipamentos para a transição energética nem gastar milhões no desmantelamento dos reatores.

A mobilização ibérica antinuclear de hoje em Madrid tem a importância essencial de não deixar as coisas ao sabor do tempo que as energéticas espanholas e o corrupto PP de Rajoy querem determinar. Estamos em Madrid sem rodriguinhos: queremos fechar Almaraz e todas as demais.

Sobre o/a autor(a)

Docente universitário IGOT/CEG; dirigente da associação ambientalista URTICA. Dirigente do Bloco de Esquerda
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