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Eles sabem bem…

Não deixa de ser caricato que os banqueiros, sempre tão rápidos a avaliar as políticas económicas, resistam agora à avaliação da qualidade dos activos detidos pelos bancos.

Duma recente reunião de banqueiros, vieram a público duas curiosas reivindicações: uma, o Estado deve pagar de imediato 60 mil milhões de euros de alegadas dívidas à banca. Outra, a reivindicação de suspensão da prevista avaliação dos activos do sector bancário.

Quanto à primeira reivindicação, o pagamento de 60 mil milhões de euros de alegadas dívidas do Estado, vinha mesmo a calhar: é que os bancos precisam desesperadamente de dinheiro.

Segundo o Banco de Portugal, a dívida externa da banca atingiu, no primeiro trimestre de 2011, o valor colossal de 164,8 mil milhões (mais de 42% de toda a dívida externa bruta portuguesa de 388 mil milhões de euros). Mas, pior ainda, quase 70 mil milhões de euros são dívida de curto prazo, a liquidar obrigatoriamente num prazo inferior a um ano…

Quanto à quase exigência de suspensão da avaliação dos activos, não deixa de ser caricato que os banqueiros, sempre tão rápidos a avaliar as políticas económicas, resistam agora à avaliação da qualidade dos activos detidos pelos bancos. Mas percebe-se: é que os “esqueletos nos armários” são mais que muitos…

Os inspectores da troika tão querida dos banqueiros, vão afinal confirmar que os activos do sector bancário são constituídos dominantemente por obrigações e acções de empresas privadas sem notação atribuída ou classificadas como “non-investment grade”, unidades de participação em fundos de investimento e imóveis.

Apesar de diabolizada, a dívida pública portuguesa – Obrigações do Tesouro - detida por toda a banca (menos de 20 mil milhões de euros) é dos poucos activos devidamente notados pelas agências de rating. Mas representa menos de 3% dos activos de toda a banca. Dito doutra forma, mais de 90% dos activos detidos pelos bancos (obrigações e acções de empresas privadas …) são de qualidade mais que duvidosa, com registos contabilísticos muito acima do seu valor efectivo.

A avaliação da qualidade de crédito dos investimentos (activos) dos bancos vai mostrar que há muito lixo, muitos produtos financeiros tóxicos na banca. E os banqueiros disso sabem bem, muito bem…

Sobre o/a autor(a)

Jurista. Membro da Concelhia do Porto do Bloco de Esquerda
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