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É claro que o racismo não existe

Segundo um relatório do Governo dos EUA, só na primeira metade de 2020, a esperança média de vida regrediu em um ano para a média da população, mas em 2,7 anos para os afrodescendentes.

Num livro publicado no ano passado, Angus Deaton, Prémio Nobel da Economia, e a sua colega Anne Case discutem “As Mortes por Desespero e o Futuro do Capitalismo”. Partiam de um facto: a esperança média de vida nos EUA reduzira-se ao longo dos três anos anteriores, pela primeira vez desde 1918. Foi escrito antes da covid e as causas foram a miséria, o alcoolismo, o abandono. Os autores atribuíram essa tragédia social à concentração do poder plutocrático e ao desprezo pela saúde dos mais pobres.

Um relatório do Governo dos EUA, publicado na semana passada, atualiza estes dados: só na primeira metade de 2020, a esperança média de vida regrediu em um ano para a média da população, mas em 2,7 anos para os afrodescendentes. Estes já tinham seis anos de diferença em relação à média geral e sofreram uma taxa de mortalidade covid que foi o dobro da registada entre os brancos. Um dia terminada a pandemia, a esperança de vida recuperará, mas ainda haverá a desigualdade social na saúde e uma diferença de vida e morte pela cor da pele.

Artigo publicado no jornal “Expresso” a 26 de fevereiro de 2020

Sobre o/a autor(a)

Professor universitário. Ativista do Bloco de Esquerda.
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