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A Direita sem alternativa

A Direita não apresenta propostas de alteração ao Orçamento de Estado porque a sua verdadeira alternativa é a austeridade infinita.

Passos Coelho, no encerramento do debate na generalidade sobre o Orçamento de Estado, sublinhou que o PSD não apresentaria propostas de alteração pois este OE ‘não tinha emenda’. No mesmo dia, a Moddy’s dá luz verdade ao Orçamento de Estado português. O fair Play chega de quem menos se espera e os que durante quatro anos apontaram o dedo a todos os seus opositores políticos acusando-os de falta de patriotismo são os que hoje mais rezam para que este OE falhe.

Podemos assumir, de uma forma resumida, então, que a Direita não apresenta propostas de alteração ao Orçamento de Estado porque a sua verdadeira alternativa é a austeridade infinita.

Para além de travar as saga de privatizações dos últimos anos e devolver rendimentos aos trabalhadores, esta solução governativa tem uma outra vantagem: criou a possibilidade de provar que a política ‘infalível’ da austeridade infinita de Passos&Portas é, ao fim de contas, um grande embuste. Tivemos dois líderes partidários a comandar o país numa lógica de corrente de transmissão dos ditames da Comissão Europeia para Portugal, esvaziando a economia nacional de capacidade produtiva e aumentando ainda mais o valor da dívida. A receita infalível? Essa falhou redondamente.

Recorrendo à literatura, arrisco uma analogia com a obra de Kafka, o Processo. O Processo apresenta uma narrativa que nos relata o drama de Josef K., funcionário bancário que, na manhã do seu trigésimo aniversário, é acusado e detido. A vida de K. se transforma rapidamente já que a partir desse momento passa a ser um suspeito aos olhos de todos, que começam a tratá-lo com desconfiança – inclusive no banco, onde seu trabalho é posto à prova. A política de austeridade culpou todos os portugueses pelo facto de terem ‘vivido acima das suas possibilidades’, mergulhou um povo num processo sem fim à vista, onde fomos convidados à força a pagar as dívidas que não são nossas e ficar ainda mais pobres. Aos olhos do resto da Europa, somos os alunos que reprovam no exame e todo o nosso projeto de Estado Social é posto em causa.

Alguém que nos tire desta prisão.

Artigo publicado em jornalreferencia.blogs.sapo.pt

Sobre o/a autor(a)

Museólogo. Investigador no Centro de Estudos Transdisciplinares “Cultura, Espaço e Memória”, Universidade do Porto
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