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A diabetes não pode esperar - Carta aberta ao próximo Governo

O peso crescente das doenças crónicas e o reconhecimento da diabetes como uma prioridade requer mudanças sociais, estruturais e organizacionais. Este é o momento! É a Organização Mundial de Saúde que o diz, é a União Europeia que o reforça.

É importante recordar que a diabetes continua a aumentar e que muito mais pode e deve ser feito para reduzir o seu impacto em Portugal. Não podemos baixar a guarda na luta sem tréguas contra esta pandemia.

Com a crise pandémica, o nosso sistema de saúde evidenciou as suas fragilidades estruturais, debatendo-se com a escassez de recursos humanos e com a crescente desigualdade no acesso aos cuidados.

O peso crescente das doenças crónicas e o reconhecimento da diabetes como uma prioridade requer mudanças sociais, estruturais e organizacionais. Este é o momento! É a Organização Mundial de Saúde que o diz, é a União Europeia que o reforça.

A diabetes é uma doença complexa. É uma das principais causas de morte da nossa população e causa muitas das incapacidades mais temidas por todos nós. A evidência mostra-nos que a implementação de medidas de prevenção pode reduzir o risco de desenvolver diabetes e que o investimento em rastreios, diagnóstico precoce e acesso a cuidados de saúde multidisciplinares e integrados, entre outras medidas, podem ajudar a diminuir ou a retardar o risco do aparecimento das consequências associadas à doença, tais como enfartes do miocárdio, acidentes vasculares cerebrais, falência renal, cegueira e amputação dos membros inferiores.

Uma resposta global e diferente para a diabetes é o desafio que a Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal faz ao próximo Governo. Uma resposta assente em 5 passos estratégicos para lidar com as doenças crónicas, em particular com a diabetes:

  1. O primeiro é saber quantas são e como estão as pessoas que vivem com diabetes, através do desenvolvimento de sistemas de registo e partilha de dados de saúde, a nível nacional e europeu. Só assim poderemos definir políticas adaptadas à nossa realidade com vista à redução do risco de diabetes e à criação de programas de gestão e de cuidados.

  2. O segundo é saber onde estão, reforçando os programas de rastreio e de diagnóstico precoce, assim como os programas de intervenção educativa e motivadora para os autocuidados da doença, em conjunto com as autarquias, as comunidades, os diferentes agentes da sociedade civil e os cuidados de saúde de proximidade.

  3. O terceiro é saber como são apoiadas, assegurando a integração das doenças crónicas não só na agenda da saúde, mas principalmente na agenda social e de desenvolvimento. Os fatores sociais (pobreza, mau urbanismo, más condições de trabalho, p. ex.) estão associados a mais e pior doença. O suporte e o apoio social integrados com as respostas de saúde são fundamentais para que as pessoas com doenças crónicas atinjam resultados positivos na sua saúde.

  4. O quarto é saber como prevenir, implementando políticas públicas que se dirijam aos fatores de risco modificáveis para ajudar a reduzir o risco ou a atrasar o desenvolvimento da diabetes e das suas consequências. É o caso de políticas de promoção da vida ativa, de acesso à alimentação saudável e de apoio à produção de produtos alimentares saudáveis, entre outras.

  5. Por fim, saber como controlar. Os profissionais de saúde de proximidade são os que se encontram melhor posicionados para responder às necessidades das pessoas. O investimento em cuidados primários integrados é essencial para assegurar que as pessoas com diabetes vivam vidas longas e saudáveis. Este investimento deverá incluir o desenvolvimento de competências de educação e a implementação de consultas multidisciplinares nas estruturas de saúde de proximidade.

Estes são os pontos, que funcionando em conjunto, possibilitarão a mudança necessária para um combate efetivo à diabetes e às doenças crónicas, levando a uma sociedade mais saudável. Para que esta resposta exista, também é necessário uma estrutura diferente responsável, com capacidade de definição, implementação, acompanhamento e divulgação das medidas e dos seus resultados.

Alguém dizia: se queres saber como é um serviço de saúde de um país, pergunta-lhe como tratam a diabetes. Não é a pergunta que precisamos de fazer. É a resposta! Esse é o desafio para os próximos representantes e para o próximo Governo. E nesse desafio a APDP quer voltar a estar na primeira linha.

Artigo publicado em publico.pt a 27 de janeiro de 2022

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