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A desigualdade e a confiança

As políticas até aqui prosseguidas reforçam as desigualdades e destroem a confiança.

As desigualdades de recursos, ou “de capitais” como prefere chamar Pierre Bourdieu, económicas, culturais, sociais, ou outras, são, nas palavras de Ferreira de Almeida1 verdadeiros elementos “duros” da realidade. A sua redução, além de representar um imperativo ético, favorece a eficiência económica e o bem-estar global das sociedades. Existe uma reta de regressão inclinada que comprova que as sociedades desiguais acusam índices mais elevados de problemas económicos e sociais2 (2). Países mais igualitários como o Japão e os países escandinavos, patenteiam índices mais favoráveis quanto a problemas sociais, ao passo que Reino Unido, Portugal e os Estados Unidos, por esta ordem crescente, apresentam valores altos de desigualdades e de problemas sociais.

Um dos efeitos negativos das desigualdades incide sobre a confiança. As sociedades mais desiguais revelam, em regra, níveis de confiança mais reduzidos. Porque será este fator importante? Porque a confiança é um elemento do capital social e um indicador relevante do bom funcionamento das democracias. Patamares elevados de capital social incrementam a cooperação interindividual, a participação alargada e a coesão, elementos que se revelam essenciais para um funcionamento democrático positivo. Pelo contrário, as desigualdades acentuadas produzem disfuncionalidades num vasto conjunto de dimensões, traduzindo-se em insatisfação coletiva. Não é certamente por acaso que alguns estudos recentes confirmam a degradação do envolvimento das pessoas no trabalho3.

Vejamos então o primeiro gráfico. Dá-nos conta do nível de desigualdade de rendimentos atualmente existente em Portugal.

O segundo mostra-nos o nível de satisfação com a vida dos portugueses. Portugal é, como se nota, um dos países mais desiguais no que se refere à repartição dos rendimentos, ocupando simultaneamente o penúltimo lugar no que toca à confiança da população4.

Estes dados apenas demonstram que as políticas até aqui prosseguidas reforçam as desigualdades e destroem a confiança. Uma verdadeira política alternativa, assente na redistribuição justa dos rendimentos e sacrifícios teria consequências diferentes e positivas nestes dois domínios.


1 Almeida, João Ferreira (2011), Desigualdades e perceção das desigualdades, em José Madureira Pinto (org.), Desigualdades sociais: os modelos de desenvolvimento e as políticas públicas em questão, Caleidoscópio.

2 Pickett, Kate e Richard Wilkinson (2010), O Espírito da Igualdade. Porque razão sociedades igualitárias funcionam quase sempre melhor,Lisboa, Presença.

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