O discurso e a demagogia violenta do governante da Madeira sucumbiram naquelas seis horas daquele fim de semana.
Ainda dois ou três dias antes dos acontecimentos ouvíramos numa rádio um conhecido actor incensar o estilo de Alberto João Jardim. O que seduzia no tiranete era o seu estilo pragmático: as obras eram feitas! A Madeira tornara-se irreconhecível, com os seus inúmeros túneis desafiadores, as auto-estradas arrasadoras, os centros comerciais, quartéis de bombeiros e casas no leito de cheia das ribeiras, a desflorestação em larga escala e os eucaliptais no alto das montanhas. A natureza tinha sido domada, com a violência necessária, gabava-se o pequeno ditador.
Tinha chamado "cientistas loucos" aos ambientalistas que alertavam para a catástrofe iminente. Nos dias a seguir à catástrofe, chamou "canalhas" aos mesmos e indirectamente aos jornalistas, proibindo-os de o interrogarem sobre os erros cometidos e as suas responsabilidades nesta tragédia.
Rever ou reler o que diziam os ambientalistas desde há muitos anos sobre o que iria acontecer quando um fenómeno extremo atingisse a ilha permite-nos compreender uma diferença essencial na prática política: de um lado estão os ambientalistas, que são autoridades na matéria: do outro está o autoritarismo, feito de negligência e interesses.
Autoridade ou autoritarismo? Um diferença que se tornou óbvia com o desmascaramento da "obra" com que Alberto João foi construindo o seu poder devastador. Mas o senhor ainda estrebucha: ameaça mandar reconstruir tudo. No mesmo sítio!