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Celulose: uma taxa a não esquecer

O Ministro do Ambiente concordou com a inclusão de uma taxa sobre a indústria da celulose e da florestal intensiva. Essa simples resposta a uma pergunta minha gerou algumas críticas.

Essa simples resposta a uma pergunta minha gerou algumas críticas, mas nenhuma acertou no alvo do que verdadeiramente importa e está em cima da mesa: ordenamento do território e emergência climática.

O deputado Ascenso Simões garante votar contra a proposta e vociferou contra “o grupo do esquerdalho”. Esquece-se que a proposta nasceu no Governo do seu partido e é novamente assumida pelo Ministro do Ambiente. Aliás, Ascenso Simões, há apenas um ano, votou favoravelmente o orçamento que continha esta taxa.

Perante a pequena polémica é estranho como a proposta passou despercebido há um ano. Já se sabia que a taxa não veria a luz do dia ou terá existido uma polémica escondida dos olhos públicos? Creio que a primeira crítica devia ter sido ao rasgar do compromisso democrático: o governo prometeu e não fez, só por isso é que o tema é retomado agora.

Em editorial no Público, Manuel Carvalho ataca a taxa alegando que a mesma incidirá sobre “minúsculas empresas do interior” e “pequenas serrações”. Sejamos objetivos, esse não é o âmbito da taxa que tratará de indústria intensiva. Mais, a taxa deverá ser diferenciada por atividade económica. Portanto, não lancemos medos infundados e discutamos o que está em realmente causa. Confundir os milhões da indústria da celulose com os tostões das serrações não faz sentido.

Alguns países na Europa têm um problema diferente do nosso: a floresta está organizada para serrações gigantes que exigem poucas espécies e tamanhos padronizados, logo as árvores são cortadas com a mesma idade. Essa é a via que tem reduzido aí as florestas biodiversas. Esse não é o problema no país.

Em Portugal, o território está organizado para os interesses da indústria da celulose com todos os seus impactos, nomeadamente um maior risco, incêndios mais intensos e quebra de biodiversidade. A força desta indústria é tal que molda, através da economia, o território que não é da sua propriedade. Basta andar pelas estradas do país para o perceber. São necessárias políticas públicas, nomeadamente no apoio ao desenvolvimento de espécies florestais de crescimento lento. É para isso que serve esta taxa.

Assim, ao contrário do que Manuel Carvalho afirma, a dicotomia não é sobre “urbanos” contra “homens do campo”. É sobre quem paga a necessária adaptação: a indústria que lucra com a (des)organização do território ou pessoas do país, quer vivam na cidade ou no campo. Creio que os incêndios florestais demonstram como nos sai caro quando não há políticas públicas corajosas e quais as populações que pagam primeiro esse preço.

Sobre o/a autor(a)

Biólogo. Dirigente do Bloco de Esquerda
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