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BIC recebe mil milhões para comprar BPN por 40 milhões
Julgavam PSD e CDS que, por uns tempos, estavam livres do BPN, podiam esquecer o BPN. Puro engano.
Menos de uma semana depois do debate que aqui travámos, o Bloco de Esquerda traz novamente ao Parlamento o processo do BPN, confrontando mais uma vez –e as vezes que forem necessárias – a direita e o seu governo com as pesadas responsabilidades que têm neste monumental buraco financeiro que é o BPN.
Fazemo-lo pela verdade e transparência que são devidas aos portugueses que pagam cêntimo a cêntimo, sugados pela austeridade que lhes é imposta pelo governo da troika, os muitos milhões atirados para o buraco sem fundo em que se transformou o BPN. São os sacrifícios dos portugueses, os subsídios retirados, os impostos aumentados, os apoios sociais cortados, que estão a pagar o BPN e a sua generosa entrega ao BIC.
Se bom caminho é para o governo um futuro com mais 100 mil desempregados e uma recessão a crescer até aos 3,3%, então é natural que PSD e CDS achem que o BPN vai no bom caminho.
O governo é muito exigente na austeridade mas relapso na prestação de contas.
Um dia depois, 24 h depois, da direita ter recusado a comissão de inquérito foi conhecido e confirmado pelo governo, que a venda do BPN ao BIC implica mais um financiamento de 300 milhões de euros. O BPN transformou-se num sorvedouro insaciável e a sua venda é cada vez mais um problema, um custo acrescido para o Estado.
E estes novos 300 milhões euros podem ainda ser muito mais. Basta para isso que os depósitos atualmente no BPN sejam levantados. Pois, o governo assumiu o compromisso de cobrir os depósitos levantados.
Disse o primeiro-ministro que não se trata de um empréstimo, mas apenas de uma linha de crédito. É exatamente a mesma diferença entre ser condenado por roubar ou furtar.
O que na semana passada somava 5,4 mil milhões de euros, soma agora 5,7 mil milhões e ninguém pode dizer hoje se a fatura vai para por aqui.
A semana passada o Estado dava ao BIC 767 milhões de euros para o BIC comprar o BPN por 40 milhões, agora o Estado vai receber os mesmos 40 milhões mas paga mil milhões de euros ao BIC.
Em resumo, o BIC recebe mil milhões para comprar um banco por 40 milhões.
É caso para dizer que esta venda do BPN ao BIC traz mesmo água no bico.
Que dirão hoje PSD e CDS perante estas péssimas novidades?
Dizia o CDS que a venda se destina a pôr fim ao pesadelo do BPN. Está à vista que a venda do BPN acrescenta mais pesadelo ao pesadelo, e que se nada for feito, este é um pesadelo sem fim.
Para o PSD tudo isto não passa de chicana política, como dizia o deputado Hugo Velosa. Chicana do Bloco, chicana da oposição e certamente também chicana da comissão europeia que pergunta o mesmo que nós perguntamos:
- estes mais de cinco mil milhões gastos na reestruturação do bpn foram o mínimo indispensável?
- onde e como foram gastos estes cinco mil milhões?
- esta venda ao BIC é um favor ao comprador?
PSD e CDS só têm uma preocupação: vender rapidamente o BPN, para que o assunto seja rapidamente esquecido, aquilo a que se costuma chamar esconder o lixo debaixo do tapete.
Ouçam o que diz Paulo Rangel:
“É preciso explicar, com todas as letras, o valor, aparentemente diminuto, da privatização; as sucessivas dotações de capital público; o destino e o valor do património imobiliário; a situação dos trabalhadores. O BPN e a solução para ele encontrada constituem um sorvedouro exponencial de dinheiro. Os contribuintes portugueses merecem uma explicação: uma explicação simples, completa e definitiva. A obscuridade e opacidade em redor do BPN e do seu resgate é, em sede de legitimidade moral e política, uma bomba-relógio”.
A venda é ruinosa? Ao PSD e CDS não interessa.
A venda é pior opção para o estado? Não interessa
Há outras soluções menos ruinosas? Também não interessa.
O que interessa é despachar a venda o mais depressa possível para não deixar o comprador desconsolado.
Por isso recusam a comissão de inquérito. Recusam porque sabem que ela permite o escrutínio rápido e claro desta operação, de forma transparente, à vista de todos e em tempo útil.
Se a nacionalização pelos termos em que foi feita, foi um erro, uma precipitação, a gestão pela CGD do BPN nacionalizado foi um descalabro. E a venda ao BIC, por tudo aquilo que se conhece, mesmo sendo muito pouco, aumenta o descalabro.
É preciso parar esta espiral em que todas as decisões se transformam em novos encargos, em mais encargos para o estado e os portugueses.
A comissão de inquérito é uma necessidade inadiável. Estamos certos que ela vai acabar por ter lugar. Os portugueses não compreenderiam que quem pode constituí-la não o fizesse.
BE, PS, PCP e PEV votaram a favor da comissão de inquérito. São 98 votos. Votos suficientes para vencer o muro de silêncio que a direita quer construir em torno do BPN.
Declaração política do Bloco de Esquerda na Assembleia da República, 29 de fevereiro de 2009
Comentários
Excelente texto. Esta burla
Excelente texto. Esta burla tem que ser desmascarada custe o que custar, pois custou e continua a custar demasiado para a economia do país e para a qualidade de vida dos desgraçados dos contribuintes. Escrevam ... desmascarem o BPN. NÃO PODEMOS BAIXAR OS BRAÇOS PERANTE ESTA COLOSSAL E VIL ROUBALHEIRA
Umas pequenas
Umas pequenas contas:
Deposito no BPN de 600.000.000€ rende 5%=62.500€/dia ou 1.850.000€ / mês, rende até Dez12 = 18.500.000€
Crédito de 300.000.000 + 400.000.000 para o BIC.
BIC= 750 trabalhadores BPN custam 15.000.000€até Dez12.
BIC paga 40.000.000€ pelo BPN, mas:
- Escolhe a carteira de crédito, escolhe a carteira de depositos, escolhe os trabalhadores, escolhe os cliente que quer.
O estado fica com 750 trabalhadores BPN (os mais caros), custa ano 30.000.000 até Dez2012.
Ao fim de 1 ano estado e BIC despedem (condições de mercado, volume de negocios, etc...), estado gasta 30.000.000 BIC gasta 15.000.000, BIC mantém 30 agências.
Conclusão: Estado gasta 1.330.000.000€, BIC recebe e fica com 448.000.000€.
Creio que somente alguém que
Creio que somente alguém que não tenha minimamente seguido o "processo" BPN poderá estar em desacordo com o texto.
Mas, agora como desde o início do dito (escandaloso) "processo", uma dúvida me não larga: que forma diversa haveria de não termos (eu também pago)de pagar este "descalabro" (a palavra não é minha)? "Chamando os bois pelos nomes": qual(ais) a(s)outra(s) forma(s) de cuidar deste "menino que caiu nas mãos do atual Governo"?
Vinco que faço a pergunta na qualidade de ignorante, isto é, de quem não conhece qualquer resposta à dita. Mas na convicção de que (até onde o autor se recorda) a nacionalização do BPN foi da responsabilidade exclusiva do PS e seu Governo.
É preciso trazer mais
É preciso trazer mais democracia à sociedade portuguesa, porque enquanto persistir este modelo democrático as coisas terão sempre a mesmo rumo, não adianta chamar os bois pelo nome, não adiantam as auditorias, não adiantam as sucessivas mudanças de governo.
O regabofe, a incúria e o roubo descarado continuarão protegidos por aqueles que nos governam impunemente e ainda protegidos pela lei à medida, imunidade democrática e pelo poder que detêm na sociedade através de grupos de influência "Opus Dei, Maçons, escritórios de advog." e outros criminosos num bailado de compadres e malfeitores.
É sabido que este PSD e o PS se comportam como lady Guinevere e o cavaleiro Lancelote, amam-se mas não se assumem, no entanto fazem amor às escondidas.
É necessário que haja mudanças no interior dos partidos, seja à direita ou à esquerda....
Se os deputados eleitos forem primeiramente escrutinados internamente sem imposiçaõ do lider haverá mais qualidade na democracia....
Bloco, não adormeças
Para onde foram esses 5.7 mil
Para onde foram esses 5.7 mil milhões? Têm de estar em algum lado.
"É preciso parar esta espiral em que todas as decisões se transformam em novos encargos, em mais encargos para o estado e os portugueses."
Mas como? se a justiça não funciona.
A única autoridade (que ainda resta) que pode fazer alguma coisa é o próprio povo português. Mas não é com umas dezenas de pessoas com uns cartazes aos berros. Tem de ser mais do que isso.
Estamos a ser demasiado tolerantes com estas situações, e a dar mais importância ao futebol e à televisão.
Eu tenho uma esperança e uma visão de que quando os combustíveis chegarem aos 2.5 euros por litro, e que o salario mínimo já não seja suficiente para comer e pagar o transporte, que finalmente corramos todos para lisboa e tirar à força para a rua toda aquela corja maldita que nos (des)governa.
Porque nós não fazemos nada?
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