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As associações de doentes dizem presente!

Desde que foi criada, a linha de apoio da diabetes da APDP já atendeu cerca de 750 chamadas e os seus profissionais foram capazes de ajudar pessoas que, sem esta ajuda, poderiam ter desenvolvido complicações mais sérias.

Nos relatórios de situação publicados diariamente pela Direção-Geral da Saúde, o número de óbitos é sempre a constatação mais dramática. Apesar de registarmos uma das percentagens mais estáveis da mortalidade, comparativamente com outros países, a verdade é que a mortalidade total vai subindo, lenta, insidiosa, e principalmente entre as gerações com mais anos. Até à data, 95% das pessoas que morreram em Portugal devido à covid-19 têm mais de 60 anos de idade e a mortalidade nessa faixa etária situa-se nos 8,5%.

As autoridades implementaram, e bem, medidas de dever de proteção especial para os maiores de 70 anos. Mas para travar a morbilidade do vírus temos de descer um patamar de idade. Até que chegue a tão aguardada vacina ou o tão aguardado medicamento, é preciso proteger as pessoas com mais de 60 anos através de medidas de confinamento e de autocontrolo da sua saúde, essencialmente os mais frágeis, os que vivem com doenças crónicas.

Com ou sem covid-19, a mortalidade em Portugal, no geral, cresceu desde o início de março, sem que haja uma real perceção para a sua causa. Segundo o inquérito do centro de estudos e sondagens de opinião (cesop) da universidade católica portuguesa, publicado no jornal Público no dia 14 de abril, 74% dos portugueses não se deslocam aos serviços de saúde por medo do coronavírus. Entre as pessoas que dizem pertencer a grupos de risco, 32% deixaram de ir ao médico. Com uma redução na ordem dos 45% de ida às urgências, acrescem as dificuldades de acesso a consultas, a exames e a tratamentos.

Toda esta crua realidade vem demonstrar a importância do autocontrolo da saúde baseado na educação e no acompanhamento. A história da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP) construiu-se em torno destes dois valores, só possíveis numa relação de apoio e de confiança nas pessoas, pois são elas as mais interessadas no seu próprio bem-estar. A linha de apoio criada pela APDP (213816161) é disso um bom exemplo. Com este trabalho de apoio à distância conseguimos criar uma central de educação que apoia e vai para além da triagem feita pelo SNS 24, confirmando assim o potencial da telemedicina como ferramenta de educação e de acompanhamento.

Desde que foi criada, a linha de apoio da diabetes da APDP já atendeu cerca de 750 chamadas e os seus profissionais foram capazes de ajudar pessoas que, sem esta ajuda, poderiam ter desenvolvido complicações mais sérias. É o caso de uma pessoa com diabetes e covid-19 que viu a sua doença descompensada e, por telefone, aprendeu a fazer insulina, ou de uma pessoa com lesão oftalmológica que foi diagnosticada e tratada à distância por um dos oftalmologistas da APDP com recurso a fotografia.

A crise pandémica veio reforçar a importância do acompanhamento de proximidade e o espírito de solidariedade coletiva, o papel das juntas de freguesia com as suas iniciativas locais, as associações e coletividades que se juntam para recolher alimentos e fazê-los chegar a famílias mais carenciadas ou as entregas domiciliárias de produtos essenciais como medicamentos, à semelhança do que faz a farmácia da APDP para os seus associados. Esta tenacidade contra o vírus não esquece o papel da saúde pública, a identificar e a testar os contactos das pessoas afetadas, os cuidados primários como primeira linha de identificação e de acompanhamento das pessoas infetadas que ficam em casa (85% dos casos) e os cuidados hospitalares com a dedicação ímpar às situações mais graves. É o SNS! Mas quanto mais será eficaz com o aumento da capacidade de compreender e aplicar as recomendações por si feitas? E aí as associações de doentes dizem presente!

Artigo publicado em publico.pt a 16 de abril de 2020

Sobre o/a autor(a)

Médico, presidente da Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP), dirigente do Bloco de Esquerda
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