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Aqui não vale tudo

Chegando ao fim deste ano marcado pelas eleições legislativas e a catástrofe dos incêndios que nos levaram boa parte dos nossos territórios, como foi o caso da Serra da Estrela, seria importante refletir estas nossas lutas e de como as levamos connosco na viragem do ano.

Há muito que as políticas neoliberais através da economia do privilégio têm retirado do interior do país recursos que deveriam servir para o seu desenvolvimento. Contudo enquanto ativistas e militantes de terras mais frias continuámos todas as lutas contra quem olha para o interior como um sítio onde vale tudo. Chegando ao fim deste ano marcado pelas eleições legislativas e a catástrofe dos incêndios que nos levaram boa parte dos nossos territórios, como foi o caso da Serra da Estrela, seria importante refletir estas nossas lutas e de como as levamos connosco na viragem do ano.

O debate à esquerda daquilo que é o interior, quais as suas potencialidades e importância é necessário de forma a lutar por melhores condições para quem aqui vive e trabalha, fixando assim pessoas. Ao longo dos últimos anos temos vindo a assistir a um divórcio entre serviços públicos e interior. Assistimos ao fechar de escolas, centros de saúde, serviços de hospital, assim como a rutura das urgências como algo constante. É fundamental considerar que estes serviços de proximidade têm um forte impacto na qualidade de vida das populações, incentivando a permanência das mesmas, e atraindo novas pessoas para estas regiões.

Na educação e na habitação continuamos a lutar para que estas sejam livres, públicas, sendo que a habitação seja acessível para todas as pessoas. E que ambas sejam um direito e não um negócio. Na saúde é necessária a contínua defesa do SNS, dando resposta a uma população, cada vez mais envelhecida, por sinal, dando-lhe serviços dignos. Repensar a política de cuidados e defender uma resposta pública e gratuita de creches e lares. A notícia do possível fecho das maternidades da Guarda e Castelo Branco é das lutas que levamos connosco para o próximo ano. Para que não exista mais um divórcio naqueles que são os serviços de proximidade para a vida das pessoas.

A forte e grave vaga de incêndios ao longo do verão fez com que muitos territórios do interior fossem afetados. Ninguém se esquece (espero eu) daquilo que se viveu na Serra da Estrela no mês de Agosto. E para além das claras perdas de fauna, flora, biodiversidade (únicos deste território) estes incêndios vieram denunciar, uma vez mais, a precariedade vivida pelos sapadores florestais. O sistema falha naquela que é uma verdadeira gestão e prevenção de incêndios, existindo aqui baixos salários, precariedade, a não existência nem de carreiras profissionais nem de estatuto profissional destas pessoas, que são as principais protetoras da natureza e património do nosso interior.

Levamos todas estas lutas no sapatinho para 2023. Lutar por todas estas reivindicações (e faltam falar de tantas outras) é uma responsabilidade coletiva tanto política como social para com todas as pessoas que lutam por interior onde seja possível querer viver, fazer vida e onde não continue a “valer tudo”.

Sobre o/a autor(a)

Licenciada em Ciência Política e Relações Internacionais. Ativista política e das causas LGBTQIAP+, ambientais e feministas. Autora do podcast “2 Feministas 1 Patriarcado”
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