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Alternativas à utilização militar da ilha Terceira? Mais utilização militar...

Poderão, na mesma ilha e até mesmo na mesma infraestrutura, conviver atividades tão exigentes e tão sensíveis, quanto são os transportes e a logística, com a atividade militar, ainda para mais, quando falamos da maior potência militar mundial?

O futuro dos Açores, nomeadamente no que diz respeito ao seu papel no Atlântico norte, tem sido motivo de debate constante nos últimos anos, principalmente desde que se anunciou o processo de redução da presença norte-americana na base das Lajes.

Até aí, a ideia de que a posição geográfica dos Açores no Atlântico, tinha uma importância valorizada quase única e exclusivamente pelos militares era absolutamente hegemónica. Todas e quaisquer vozes que procurassem debater novos caminhos para tirar partido da nossa posição no Atlântico, partindo da superação da lógica belicista e dos blocos militares, eram excluídas do debate.

Saltando para os dias de hoje, a necessidade de encontrar alternativas civis à presença e reforço militar norte-americano nas Lajes são reconhecidas por quase todos, até mesmo pelos seus mais acérrimos defensores.

Entre as alternativas civis, as que preconizam a utilização e valorização do porto da Praia da Vitória enquanto plataforma logística e/ou de abastecimento de navios movidos a gás natural liquefeito têm sido as mais discutidas. Recentemente, uma empresa de consultoria apresentou um estudo de viabilidade económica para a criação de uma plataforma logística internacional no Porto da Praia da Vitória. Os autores do estudo consideram que o projeto é viável técnica e economicamente.

Quase em simultâneo, o ministro da defesa, Azeredo Lopes, anunciava a criação de um Centro de Segurança do Atlântico, um projeto que, segundo o ministro, conta com o apoio dos Estados Unidos, abrangerá os três ramos das forças armadas e terá a sua base nas Lajes.

Poderão, na mesma ilha e até mesmo na mesma infraestrutura, conviver atividades tão exigentes e tão sensíveis, quanto são os transportes e a logística, com a atividade militar, ainda para mais, quando falamos da maior potência militar mundial? Só uma grande dose de ingenuidade pode levar alguém a acreditar nisso.

As várias utilizações da nossa posição geoestratégica são, na prática, mutuamente exclusivas e exigem escolhas. O governo da república parece ter escolhido a vertente militar e a relação político-militar com os EUA. O ministro dos negócios estrangeiros escreveu, recentemente, que é necessário “abrir novas avenidas” na área da segurança e defesa, nomeadamente na promoção da segurança no Atlântico, referindo-se claramente ao novo centro militar.

Para os EUA e Trump terem aceite este caminho, talvez tenha contribuído a mudança de posição do PS em relação à responsabilidade da descontaminação dos solos e aquíferos da ilha Terceira. Segundo a última iniciativa parlamentar do PS na AR sobre o assunto, a responsabilidade da descontaminação é só portuguesa, e o poluidor norte-americano fica liberto desse encargo. Assim, os negócios são bastante mais fáceis.

Artigo disponível em acores.bloco.org

Sobre o/a autor(a)

Deputado do Bloco de Esquerda na Assembleia Regional dos Açores e Coordenador regional do Bloco/Açores
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