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Almeida Henriques, o “grande facilitador”?...

Quando apelidei Almeida Henriques de “grande facilitador”, olhos nos olhos, apenas me baseei em factos políticos. Porém, espero não ter sido premonitório...

Nos últimos dias têm sido publicadas, primeiro no Jornal de Notícias e posteriormente no Correio da Manhã, novas notícias sobre a investigação que a Polícia Judiciária está a fazer ao presidente da Câmara Municipal de Viseu. Segundo relatou o JN, Almeida Henriques (AH) terá recebido 123 mil euros (dos quais apenas passou recibos de 40 mil) provenientes de uma avença de 1.230 euros mensais que lhe seria paga pelo empresário José Agostinho em troca de “facilitação” (favores ou “luvas”) de negócios, enquanto foi deputado, secretário de Estado da Economia e do Desenvolvimento Regional e, mais tarde, já como presidente da Câmara. AH terá mesmo posto um assessor a trabalhar para o empresário. A PJ que escutou o autarca a pedir dinheiro ao empresário, já confirmou que A.H. telefonou aos seus colegas autarcas do Porto e de Coimbra pedindo para receberem José Agostinho. O CM diz que o sócio da mulher de AH na QI Consultadoria Empresarial, saiu da sociedade mal soube da investigação, por desconhecer em concreto a atividade da empresa, e por nela ter um papel fictício, que aceitou para ajudar o amigo AH que passava por dificuldades económicas, derivadas de investimentos ruinosos na sua atividade empresarial. AH terá ainda facilitado, graças à sua proximidade à gestão dos Fundos Estruturais do QREN, o co-financiamento em 85% (em vez dos normais 70%) da candidatura de José Agostinho, que assim terá ganho 2,8 milhões.

Almeida Henriques tem apelado ao respeito pelo princípio da presunção de inocência. Pela minha parte, repito o que já escrevi em Novembro de 2018:

“Viseu tem estado, nas últimas semanas, nas primeiras páginas dos jornais nacionais devido ao escândalo da “Operação Éter” da Polícia Judiciária, que levou à prisão preventiva de Melchior Moreira, presidente do Turismo do Porto e Norte de Portugal (TPNP), ex-deputado e ex-vereador do PSD em Lamego, e o empresário viseense José Agostinho sujeito a caução de 50 mil euros, suspeitos de corrupção e viciação de contratos para a implementação de lojas interativas de turismo, por ajuste direto. O Jornal de Notícias do passada dia 25, apontava, em grandes parangonas, de primeira página, o empresário como testa de ferro de Almeida Henriques, de quem teria sido sócio. O atual presidente da Câmara Municipal de Viseu negou que alguma vez tivesse sido sócio daquele empresário, mas o JN confirma pelos registos comerciais que efectivamente Almeida Henriques e José Agostinho foram, respectivamente, “sócios de duas empresas (a Gabiforma e a Celeuma) que constituíram a NaOnda.Net – Tecnologias de Informação, Lda, para prestação de serviços de tecnologias de informação”, tendo, “assim, pelo menos de forma indireta, uma relação societária”.

“Em primeiro lugar, devo dizer que, para mim, até haver qualquer sentença transitada em julgado, todos os implicados devem beneficiar da presunção de inocência. É conhecida a vocação de Almeida Henriques para os negócios e embora algumas das suas empresas tenham acabado insolventes, como foi o caso da Gabiforma, esse é um risco que qualquer empresário enfrenta. Já tive até oportunidade de dizer a Almeida Henriques, na Assembleia Municipal, que ele mereceria ficar nos anais da história da cidade com o cognome de “O grande facilitador”, já que se preocupa tanto em facilitar negócios privados, como aconteceu quando anunciou, ufano, numa sessão daquele órgão autárquico, que a reclamada unidade de radioterapia viria para Viseu...para o Hospital da CUF(!!!); ou quando pretendeu passar os SMAS para Águas de Viseu, E.M., garantindo, perante a acusação da oposição de estar a abrir as portas à privatização da gestão da água pública, que com ele isso não aconteceria, mas admitiu que se no futuro algum presidente o pretendesse fazer a responsabilidade já não seria sua. Mas nada disto permite levar alguém a especular, antecipando-se à investigação e ao julgamento deste caso. Esperemos apenas que não demore tanto tempo como o da Operação Marquês, para bem da Justiça e dos eventuais inocentes.”

Quando apelidei AH de “grande facilitador”, olhos nos olhos, apenas me baseei em factos políticos. Porém, espero não ter sido premonitório...

Sobre o/a autor(a)

Ativista associativo na defesa dos Direitos Humanos. Militante do Bloco de Esquerda. Escreve com a grafia anterior ao acordo ortográfico de 1990
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