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3 anos de Troika ou a espiral do empobrecimento

Sabemos todos que se vive hoje muito pior, num país que está mais pobre, mais desigual, mais injusto.

Faz hoje três anos, a 6 de Abril de 2011, que o Governo pediu a entrada da Troika em Portugal. “Salvar salários e pensões”, era o pretexto, que não passou disso mesmo, porque hoje as consequências sociais dramáticas da entrada da Troika em Portugal são fáceis de analisar, se atentarmos em alguns dados simples mas que traduzem a espiral de empobrecimento em que o país está hoje enredado.

Em três anos o aumento dos impostos sobre quem trabalha foi de cerca de 30%, ou seja, as famílias foram sujeitas a cortes acentuados nos seus rendimentos, à mesma medida que viram os serviços públicos de educação ou saúde a degradar-se e que os preços dos bens essenciais, água, luz ou transportes, subiram de forma considerável. Cerca de 1 milhão e 100 mil portugueses vivem em situação de pobreza extrema. Mais 200 mil novos pobres desde 2010. Uma em cada 4 pessoas é pobre, um número que cresceu 25% em 4 anos, com perto de 2 milhões de cidadãos a viverem atualmente com 409 euros por mês. A taxa de pobreza cresceu de 21,3% em 2011 para 24,7% em 2012.

Em três anos registou-se um crescimento de 15 por cento nas famílias que não conseguem pagar a conta da luz, e de 30 por cento no caso do gás. 3 em cada dez pessoas não conseguem pagar a conta da luz, diz-nos a DECO.

O número de postos de trabalho destruídos em três anos é outro número preocupante. A população empregada em 2013 era inferior à população empregada em 1997. Foi década e meia de retrocesso no número de empregos, com mais de 500 mil postos de trabalho destruídos e uma taxa de desemprego que ronda os 15 por cento e só artificialmente – ignorando o flagelo da emigração e contabilizando as flutuações fruto da sazonalidade – se pode afirmar que está a melhorar. Números da OCDE, de 2014, revelam que o desemprego aumentou mais do dobro do que na média europeia, e num cenário em que mais de metade dos desempregados não recebe qualquer apoio social são perto de 350 mil aqueles que se encontram em situação de pobreza. Este é o Governo que nem a sua própria propaganda leva a sério, com a defesa dos mais idosos ou os incentivos à natalidade a não passarem de mera retórica política: o congelamento de pensões de 274, 303 ou 379 euros, os cortes no Complemento Solidário para Idosos, a baixa do valor de referência do Rendimento Social de Inserção, e a alteração dos escalões do abono de família agravaram de forma sem precedente o fosso da desigualdade social.

E foi justamente nas funções Estado Social que se operaram as mais significativas transformações desde a entrada da Troika, com 80% dos cortes a refletir-se na saúde e escola pública, e à custa dos sacrifícios impostos aos funcionários públicos e pensionistas. Em dois anos de Governo, PSD e CDS cortaram 25 mil postos de trabalho no Estado, e o peso salarial da Função Pública baixou dos 14% no produto para 10,4%, muito abaixo da média europeia.

Sobre a desigualdade do peso dos sacrifícios impostos deste que a Troika aterrou em Portugal também não existem dúvidas de onde recaiu a “ética da austeridade”, com a a banca e os monopólios a suportarem apenas 4% dos cortes.

Os sacrifícios que os portugueses fizeram durante três anos não têm outro resultado que não o empobrecimento generalizado do país, feito em nome de uma chantagem económica, cujos números tornam evidente o absurdo dos argumentos e desta política. Senão vejamos: em 2012 o défice era de 10 mil e 400 milhões de euros. Em 2013 foram impostas ao país 5 mil e 300 milhões em medidas de austeridade, cortes, impostos e desemprego. O défice não desceu nem 900 milhões, ou seja, ficámos mais pobres 4 mil e 400 milhões de euros.

Hoje, com perto de 14 mil milhões de austeridade impostos desde 2011, em impostos e redução de salários, a dívida que temos aumentou mais do dobro do que a própria austeridade e o défice está 800 milhões de euros mais alto. Três anos mais tarde, o governo português vai apresentar este mês um novo pacote de medidas de austeridade para 2015 para fechar a penúltima avaliação da Troika, antes de 17 de maio.

"A vida das pessoas não está melhor, mas a vida do país está muito melhor", diz-nos o PSD, com a sobranceria de quem brinca com vidas alheias. Sabemos todos que se vive hoje muito pior, num país que está mais pobre, mais desigual, mais injusto socialmente, e que só deixará de definhar com a rejeição do Tratado Orçamental e uma reestruturação responsável da nossa dívida, essencial para que possam existir reais políticas de crescimento e emprego.

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Jornalista
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